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Mostrando postagens de outubro, 2025

Roomful of Blues: uma big band que mantém o swing vivo

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Roomful of Blues: uma big band que mantém o swing vivo Desde o final dos anos 1960, o Roomful of Blues é uma das formações mais duradouras e respeitadas do cenário do rhythm and blues norte-americano. Nascida em Providence, Rhode Island, a banda soube construir uma sonoridade inconfundível, equilibrando o poder de uma big band com a energia crua do blues de raiz. A combinação é explosiva, repleta de sopros, grooves e um repertório que atravessa décadas sem perder a vitalidade. As origens e a essência do swing O embrião do Roomful of Blues surgiu em 1967, quando o guitarrista Duke Robillard e o tecladista Al Copley decidiram tocar o blues que amavam, inspirado por artistas como T-Bone Walker, Count Basie e Big Joe Turner. O nome da banda — “um quarto cheio de blues” — refletia bem a ideia: uma formação numerosa, vibrante, com uma parede sonora de metais e ritmos pulsantes. Logo a banda chamou atenção na Nova Inglaterra e começou a se destacar nacionalmente por seu som ao mesmo t...

Cássia Eller & Victor Biglione – In Blues: a alma azul de uma voz eterna

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Cássia Eller & Victor Biglione – In Blues: a alma azul de uma voz eterna Há registros que parecem ter esperado o tempo certo para nascer. “Cássia Eller & Victor Biglione – In Blues” é um desses milagres tardios — um disco que dormiu por três décadas até encontrar o instante exato para revelar sua força. Gravado entre 1991 e 1992, o álbum traz uma das vozes mais intensas do Brasil mergulhando nas águas profundas do blues, ao lado de um dos guitarristas mais virtuosos e inquietos de sua geração. O encontro entre o instinto e a técnica Quando Cássia Eller e Victor Biglione se encontraram em estúdio, ela ainda não era o fenômeno que incendiaria os palcos nos anos seguintes. Era uma cantora de voz crua, rasgada, dona de uma entrega que beirava o transe. Biglione, por sua vez, vinha de uma carreira sólida no jazz e na música instrumental, acostumado a transitar entre o refinamento harmônico e a improvisação selvagem. O resultado desse cruzamento é um disco de combustão lenta...

Mighty Joe Young: o vigor do blues entre a força e a alma

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Mighty Joe Young: o vigor do blues entre a força e a alma Existem guitarristas que parecem moldar o som do blues com as próprias mãos, como se a madeira da guitarra respirasse com eles. Mighty Joe Young foi um desses artesãos sonoros — um homem que uniu a energia do corpo de ex-boxeador com a suavidade melódica da alma de Chicago . Sua trajetória é a de quem viveu o blues com intensidade física e espiritual, cruzando os caminhos do Mississipi, do soul e da vida noturna dos bares que nunca dormem. Das margens do Louisiana ao frio de Milwaukee Nascido em 23 de setembro de 1927 , em Shreveport, Louisiana , Joseph Young Jr. cresceu em um ambiente onde a música pulsava nos quintais e nas igrejas. Quando adolescente, mudou-se para Milwaukee, Wisconsin , em busca de novos horizontes. Lá, trocou as luvas de boxe pela guitarra, e com o tempo, os acordes substituíram os golpes — mas a força permaneceu. O apelido “ Mighty ” (poderoso) surgiu tanto em referência ao famoso filme de 1949 q...

Monster Mike Welch – o blues vivo em cada nota

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Monster Mike Welch – o blues vivo em cada nota Há guitarristas que tocam com as mãos, e há aqueles que tocam com a alma. Monster Mike Welch pertence à segunda categoria — um músico que fez da dor, da persistência e da paixão uma linguagem universal. Com seu mais recente álbum, "Keep Livin' Til I Die" , Welch reafirma o blues como um território de resistência e beleza, onde cada acorde carrega a lembrança de quem sobreviveu ao tempo e às próprias sombras. O garoto prodígio de Boston Michael Welch nasceu em Boston, Massachusetts, em 11 de junho de 1979 . Desde pequeno, mergulhou no universo do blues ao lado do pai, ouvindo discos de B.B. King, Albert King, Magic Sam e Otis Rush. Com apenas oito anos, já tocava guitarra; aos onze, impressionava plateias locais; e aos treze, ganhou o apelido que o acompanharia para sempre — “Monster Mike” , dado por Dan Aykroyd, o eterno Blues Brother, após vê-lo tocar como um veterano em corpo de criança. Seu talento precoce o lançou...

Benny Turner: irmão e parceiro de Freddie King

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Benny Turner: irmão e parceiro de Freddie King Hoje celebramos o aniversário de Benny Turner (nascido em 27 de outubro de 1939), figura de peso na história do blues, tanto como baixista, guitarrista e vocalista — quanto como testemunha viva de um legado familiar e musical que atravessa gerações. Neste artigo, vamos desvendar a sua trajetória, a relevância de seu trabalho solo e, em destaque, o álbum My Brother’s Blues, uma homenagem sentida ao seu irmão mais velho, Freddie King. Infância, raízes e o primeiro encontro com o blues Benny Turner nasceu em Gilmer, Texas, em uma família musical – sua mãe, Ella Mae (King) Turner, e seus tios Leon e Leonard King tocavam e cantavam juntos, cercados por hinos de blues, gospel e swing. Ainda menino, Benny e Freddie corriam para casa da escola para ouvir o rádio — programas como “In the Groove” permitiam-lhes absorver os sons de Louis Jordan, Charles Brown, T‑Bone Walker.  Com a mudança da família para Chicago no início dos anos 1950, as possi...

Detroit Junior: o blues urbano, vibrante e direto

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Detroit Junior: o blues urbano, vibrante e direto Entre o vapor das ruas e o cheiro de whisky que impregnava os clubes da West Side, nasceu uma das vozes mais autênticas do piano-blues de Chicago. Seu nome era Emery  Williams Jr. , mas o mundo o conheceu simplesmente como Detroit Junior — um músico que transformou as teclas em poesia urbana, carregada de humor, dor e humanidade. Filho do sul profundo e viajante do norte industrial, ele foi daqueles artistas que fizeram do blues mais do que um gênero: fizeram dele uma confissão. De cada nota, um gesto; de cada acorde, um pedaço de vida. das raízes do Arkansas à febre de Detroit Detroit Junior nasceu em Haynes, Arkansas, em 26 de outubro de 1931 . Cresceu entre o campo e o asfalto, num tempo em que o blues era alimento espiritual. A juventude o levou a Detroit, onde começou a tocar nos clubes da cidade, acompanhando artistas locais e viajantes. Ali, ganhou o apelido que carregaria por toda a vida — “Detroit Junior” —, nome que simbol...

The Aces: o som que transformou o blues de Chicago

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The Aces: o som que transformou o blues de Chicago Um lugar entre o delta e a cidade Há uma paisagem sonora que só existe quando o campo encontra o asfalto: é aí que começam as histórias dos irmãos Myers e do grupo que se fez espinha dorsal do blues elétrico de Chicago. The Aces não foram apenas uma banda de apoio; foram arquiteto e espelho de um som novo — onde o sopro do Mississippi se curvou à luz de postes e vitrines, e a batida ganhou precisão de relógio e balanço de salão. As raízes: Byhalia, migração e o aprendizado das esquinas Louis e Dave nasceram no Mississippi e chegaram a Chicago ainda jovens, trazendo no corpo o timbre da terra: as notas rudes do country blues, as frases reticentes da gaita e o gesto natural de quem aprendeu a tocar para ser ouvido numa calçada. A migração foi ponto de partida e de invenção — ali, o velho e o novo se encontraram. O movimento dos Myers representa, em pequena escala, a grande migração que redesenhou o mapa do blues americano. Formação...

Willie Mabon: um pianista elegante das esquinas de Chicago

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Willie Mabon: um pianista elegante das esquinas de Chicago Existem músicos que não apenas tocam, mas fazem seus instrumentos falarem. Willie Mabon foi um desses raros tradutores da alma humana em notas e teclas. Pianista elegante, cantor irônico e cronista das esquinas de Chicago, ele transformou o blues urbano dos anos 50 em uma conversa direta entre o coração e o humor, entre a dor e a esperteza de quem sobrevive nas ruas. Das margens do Mississippi para as luzes de Chicago Nascido em 24 de outubro de 1925, em Hollywood — não a da Califórnia, mas uma pequena cidade no Mississippi —, Willie Mabon cresceu cercado por campos de algodão e melodias que ecoavam dos rádios locais . Ainda jovem, mudou-se para Chicago, onde o blues elétrico fervia em clubes esfumaçados e porões barulhentos. Lá, Mabon encontrou seu idioma definitivo: o Chicago blues , urbano e sofisticado, cheio de swing e ironia. Enquanto muitos contemporâneos procuravam imitar Muddy Waters ou Howlin’ Wolf, Mabon tri...

Boozoo Chavis — o homem que fez a Louisiana dançar ao som do acordeão

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Boozoo Chavis — o homem que fez a Louisiana dançar ao som do acordeão Hoje escolhi como destaque a vida de Wilson “Boozoo” Chavis , homem de pés na terra vermelha de Louisiana e mãos que transformaram um acorde em festa coletiva. Neste texto, percorremos sua origem, sua música e a história do zydeco — esse som que é um sopro de francês crioulo, blues, ritmo e resistência. Nascer em Dog Hill — a infância e o apelido Wilson Anthony Chavis nasceu em uma comunidade crioula do sudoeste da Louisiana, em 1930, num ambiente onde se aprendeu a cantar em francês e a contar histórias ao ritmo das festas rurais. O apelido “Boozoo” veio na infância e ficou — como um refrão que gruda e segue com a pessoa para sempre. Cresceu cercado por músicos na família: acordeões, rabecas e washboards apareciam nas casas e nas danças, e foi ali que se forjou o ouvido que mais tarde faria multidões dançar. As raízes do zydeco — de onde vem esse som O zydeco nasce da confluência entre a tradição musical dos falante...

Sonny Landreth: o artesão das cordas que transformou o slide em fala

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Sonny Landreth: o artesão das cordas que transformou o slide em fala Neste artigo, mergulhamos na vida e na carreira de Sonny Landreth, guitarrista inovador cujo slide flamígero e sensibilidade cajun reinventaram as fronteiras do blues, do rock e da música americana. Um começo entre luzes sulistas Nasceu em Baton Rouge, Louisiana, e cresceu num ambiente onde os ritmos do Golfo e as conversas em francês cajun se misturavam aos sopros do blues. Desde cedo, Sonny Landreth mostrou vocação para transformar a guitarra em voz — não apenas tocando notas, mas narrando pequenas histórias em cada glissado. Herdeiro de uma paisagem sonora que inclui zydeco, blues e country, Landreth foi moldado por estradas suaves e por noites de bar onde a música precisava conquistar a atenção da vida real. Essa convivência com ritmos regionais não o prendeu: pelo contrário, deu a ele elementos para construir um idioma próprio, reconhecível em poucos compassos. O som e a técnica: slide como fala e as mã...

Doctor Ross: o xamã do Delta e sua One Man Band

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Doctor Ross: o xamã do Delta e sua One Man Band Há figuras no blues que parecem ter brotado diretamente da terra, com a alma cheia de pó, ritmo e mistério. Uma delas atende pelo nome de Doctor Ross — o homem que transformou o chão batido do Mississippi em uma orquestra solitária. Nascido em 21 de outubro de 1925, em Tunica, Mississippi, ele foi um desses espíritos indomáveis que carregavam o blues inteiro dentro do corpo. Cantava, tocava guitarra, gaita, batia o pé e o coração ao mesmo tempo. Sozinho, mas pleno. Era o som cru do Delta condensado em um só homem. O início de uma lenda Isaiah Ross cresceu cercado pelo calor dos campos e pelos lamentos das plantações. A música era tanto consolo quanto resistência. Desde cedo, ele aprendeu a extrair sons mágicos da gaita e da guitarra. Inspirado por John Lee “Sonny Boy” Williamson e por outros mestres do Mississippi, criou um estilo direto, hipnótico, quase ritualístico. Com um timbre nasal, sincopado e inconfundível, Doctor Ross pa...

Gwyn Ashton e o retorno incendiário com “Grease Bucket”

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Gwyn Ashton e o retorno incendiário com “Grease Bucket” Há artistas que caminham pela estrada do blues como andarilhos do tempo, com o pó da estrada colado na pele e o som da alma ecoando em cada acorde. Gwyn Ashton é um desses viajantes — um guitarrista galês radicado na Austrália que fez do blues seu mapa e do rock sua bússola. Em 2025, ele retorna com força total, empunhando a guitarra como quem acende novamente o fogo sagrado do som cru e verdadeiro. O resultado atende pelo nome de “Grease Bucket” , um disco que transborda energia, suor e espírito livre. De volta à banda completa Depois de anos explorando caminhos mais solitários, Ashton volta ao formato de banda com uma formação de peso. Ao seu lado está Chris Lambden , baixista do lendário Screaming Believers , e Paul Wheeler , baterista do Icehouse , banda australiana que marcou época nos anos 80. Essa união forma uma base rítmica robusta, pulsante e viva, devolvendo a Gwyn Ashton aquele som denso e cheio que sempre carac...

George "Harmonica" Smith: um sopro que atravessa gerações

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George "Harmonica" Smith: um sopro que atravessa gerações George "Harmonica" Smith pertence a uma linhagem rara do blues: a dos instrumentistas cuja técnica é ao mesmo tempo virtude e memória — um sopro que guarda as ruas, as estações e os salões onde o blues aprendeu a amplificar sua dor. Nascido Allen George Smith em 22 de abril de 1924, Smith tornou-se, ao longo de décadas, referência para harpistas que vieram depois, integrando as pontes entre o blues de Chicago e a cena vibrante da costa oeste. Sua trajetória atravessa bandas lendárias, estúdios modestos e o palco das grandes turnês, até o silêncio final em Los Angeles, no dia 2 de outubro de 1983.  Das raízes ao sopro elétrico: primeiros anos e evolução Crescido nas planícies do Delta e formado na estrada, George aprendeu cedo que a gaita — o seu instrumento — podia imitar tanto a voz humana quanto o apito de um trem. Mudou-se para Chicago e mais tarde para Los Angeles, absorvendo estilos, rivalidades e a téc...

Chuck Berry Blues: o pai do rock em sua mais pura alma blues

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Chuck Berry Blues: o pai do rock em sua mais pura alma blues Por trás da energia elétrica e dos riffs imortais que definiram o rock’n’roll, pulsava o coração de um bluesman. Em 18 de outubro de 1926, nascia em St. Louis, Missouri, um dos arquitetos da música moderna: Chuck Berry . E se os palcos do mundo o consagraram como o pai do rock, é no álbum Chuck Berry Blues que sua alma se revela em tonalidades mais profundas — onde cada nota carrega o eco ancestral das margens do Mississippi. O blues dentro do rock Quando pensamos em Chuck Berry, logo vêm à mente clássicos como “Roll Over Beethoven” , “Johnny B. Goode” e “Maybellene” . Mas antes do riff contagiante, antes do solo incendiário, havia o lamento. Berry era um filho direto do blues , e esse fio condutor se estende de suas composições mais famosas até as reinterpretações reunidas em Blues , coletânea lançada em 1983 pela lendária Chess Records . Gravadas entre 1958 e 1964, essas canções mostram um artista que, mesmo quan...