Gwyn Ashton e o retorno incendiário com “Grease Bucket”
Gwyn Ashton e o retorno incendiário com “Grease Bucket”
Há artistas que caminham pela estrada do blues como andarilhos do tempo, com o pó da estrada colado na pele e o som da alma ecoando em cada acorde. Gwyn Ashton é um desses viajantes — um guitarrista galês radicado na Austrália que fez do blues seu mapa e do rock sua bússola. Em 2025, ele retorna com força total, empunhando a guitarra como quem acende novamente o fogo sagrado do som cru e verdadeiro. O resultado atende pelo nome de “Grease Bucket”, um disco que transborda energia, suor e espírito livre.
De volta à banda completa
Depois de anos explorando caminhos mais solitários, Ashton volta ao formato de banda com uma formação de peso. Ao seu lado está Chris Lambden, baixista do lendário Screaming Believers, e Paul Wheeler, baterista do Icehouse, banda australiana que marcou época nos anos 80. Essa união forma uma base rítmica robusta, pulsante e viva, devolvendo a Gwyn Ashton aquele som denso e cheio que sempre caracterizou seus melhores momentos.
O álbum marca não apenas um reencontro com velhos parceiros musicais, mas também com a energia coletiva que move o blues-rock em sua forma mais orgânica. “Grease Bucket” soa como um trio em ebulição, tocando em uma sala quente de gravação, onde cada take é uma descarga elétrica. Não há espaço para artifícios — apenas suor, amplificadores e verdade.
As chamas do “Grease Bucket”
Desde a faixa de abertura, “Something That the Cat Dragged In”, o disco mostra a que veio: riffs encorpados, grooves que lembram os dias dourados do blues elétrico e uma produção crua que preserva o frescor da performance ao vivo. Em “Howlin’ At The Moon”, Ashton parece conversar com os espíritos de Howlin’ Wolf e Peter Green, fundindo ferocidade e lirismo. Já em “Evil Child”, a presença do organista Jesse Deane-Freeman adiciona uma camada de misticismo e intensidade, elevando a faixa a um ponto alto emocional do álbum.
Outra presença marcante é a da vocalista de Adelaide, Andrea Dawson, que empresta sua voz poderosa aos backing vocals. Sua contribuição traz um toque de soul e uma textura feminina que amplifica o impacto das canções, como em “Somebody” e “Self-Isolation Blues” — faixas que respiram vulnerabilidade e resistência ao mesmo tempo.
O blues em alta voltagem
O som de Gwyn Ashton é uma encruzilhada entre o blues mais cru e o rock incendiário. Ele sempre foi um guitarrista de pegada firme, com um timbre que mistura o grão britânico dos anos 60 à selvageria do Delta. Em “Grease Bucket”, essa mistura ganha corpo com a liberdade de quem não precisa provar mais nada a ninguém. É um disco que celebra a estrada, o instinto e a paixão.
Há também momentos de introspecção, como “When The Well Runs Dry”, onde o peso das palavras ecoa sobre acordes secos, e a belíssima “Blues For The Tortured Soul”, uma espécie de prece para os sobreviventes do tempo e da arte. Ashton canta e toca como quem exorciza os próprios demônios — e é justamente aí que mora sua grandeza.
Uma celebração da autenticidade
“Grease Bucket” é mais que um retorno: é uma reafirmação de princípios. Gwyn Ashton ressurge como um artesão do som, um alquimista do blues que não teme o peso da tradição. Ao lado de Lambden e Wheeler, ele encontra o equilíbrio perfeito entre o instinto e a precisão, o caos e o controle. O resultado é um disco que soa moderno sem perder o cheiro da madeira velha e do amplificador
“Grease Bucket” é o som de uma banda viva, em movimento, tocando para o agora — mas com os pés fincados nas raízes do blues.
Se o blues é o espelho da verdade, Gwyn Ashton nos mostra o reflexo mais fiel: o do artista que segue adiante, sem concessões, empunhando a guitarra como um talismã contra o silêncio.
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