Stevie Ray Vaughan: O Céu ainda Chora
Stevie Ray Vaughan: O Céu ainda Chora
No dia 26 de agosto de 1990, o Alpine Valley Music Theatre, em East Troy, Wisconsin, foi palco de uma noite histórica. Sob as estrelas, Stevie Ray Vaughan e sua banda, o Double Trouble, incendiaram o palco com um blues ardente, daqueles que parecem arrancar da guitarra não apenas notas, mas sentimentos profundos. Era o auge de sua carreira, e o guitarrista texano, que havia enfrentado seus próprios fantasmas com álcool e drogas, parecia renascer diante do público, em um espetáculo que reuniu lendas como Eric Clapton, Buddy Guy e Robert Cray.
Mas o que começou como celebração se transformaria em tragédia poucas horas depois. Na madrugada de 27 de agosto de 1990, logo após o concerto, o helicóptero que transportava Vaughan e membros de sua equipe colidiu com uma colina sob neblina espessa. Não houve sobreviventes. O bluesman que havia reinventado a guitarra elétrica, que dava à música uma ferocidade única e ao mesmo tempo uma doçura rara, partia aos 35 anos, deixando o mundo em silêncio.
O Funeral em Dallas e o Luto no Blues
Em 1º de setembro de 1990, Dallas recebeu milhares de fãs, amigos e familiares para o funeral de Stevie Ray Vaughan. O luto não foi apenas da comunidade do blues; o mundo da música inteira reconheceu ali que havia perdido um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Eric Clapton, que dividira o palco com ele naquela última noite, descreveu a dor como “uma perda irreparável”.
A morte de Vaughan trouxe à tona não apenas sua genialidade, mas também a luta pessoal que havia travado contra os vícios. Seu retorno à sobriedade, celebrado por todos, dava a impressão de que o melhor ainda estava por vir. Infelizmente, o destino traçou outra história.
Legado: Um Céu Que Ainda Chora
A carreira de Stevie Ray Vaughan foi curta, intensa e arrebatadora. Em menos de uma década, ele deixou álbuns que se tornaram pedras fundamentais do blues moderno, e após sua morte, o mundo recebeu obras póstumas que revelaram ainda mais sua essência artística. O destaque de hoje vai para The Sky Is Crying, lançado em 1991, uma coletânea de gravações inéditas que soam como cartas enviadas do além, com a guitarra de Vaughan chorando e sorrindo ao mesmo tempo.
Além disso, inúmeros registros ao vivo foram lançados ao longo dos anos, permitindo que novas gerações conhecessem a energia inigualável de suas apresentações. Cada acorde gravado parecia manter vivo o espírito de um músico que fazia da guitarra uma extensão da própria alma.
Reconhecimento e Eternidade
Em 2015, Stevie Ray Vaughan e o Double Trouble foram introduzidos no Rock and Roll Hall of Fame, um reconhecimento tardio, mas merecido, à grandeza de sua obra. Sua carreira, embora breve, continua a influenciar guitarristas, compositores e amantes do blues em todo o mundo.
Stevie Ray Vaughan nos mostrou que o blues pode ser feroz e delicado, técnico e visceral, humano e divino. E embora o céu tenha chorado em 1990, cada nota que deixou gravada é um lembrete de que algumas vozes nunca se calam — elas apenas mudam de lugar, ecoando para sempre na eternidade.


 
 
 
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