Buddy Guy: O Guitarrista Que Enxugou o Choro do Delta com Fogo Elétrico

Buddy Guy: O Guitarrista Que Enxugou o Choro do Delta com Fogo Elétrico



Na véspera de completar 89 anos, Buddy Guy permanece como uma entidade viva do blues. Mais do que um guitarrista virtuoso, ele é um contador de histórias, um elo direto com a era de ouro de Muddy Waters, Howlin' Wolf, Little Walter e tantos outros mestres do passado. Em pleno 2025, ele não apenas resiste: segue incendiando palcos e estúdios com a mesma fúria dos anos 60.

Infância, lama e o som do Delta

George "Buddy" Guy nasceu em 30 de julho de 1936, em Lettsworth, Louisiana. Criado numa família pobre de trabalhadores rurais, conheceu o mundo através dos barulhos do pé de milho e das canções que o pai cantarolava ao entardecer. Com um violão de duas cordas improvisado com arame de tela, aprendeu os primeiros acordes sozinho, ouvindo os ventos do Mississippi.

Foi ouvindo Lightnin' Hopkins, John Lee Hooker e Guitar Slim que Buddy entendeu que o blues não era só uma música — era uma forma de resistir. Guitar Slim, em especial, foi uma revelação: “aquele homem tocava como se a guitarra gritasse por dentro dele”, diria Buddy mais tarde.

Chegada a Chicago: o frio, o medo e Muddy Waters

Em 1957, Buddy chegou a Chicago com uma máquina de escrever, uma mala e um sonho. Dormiu na estação de trem na primeira noite, sem dinheiro e sem amigos. Mas bastaram poucos meses até que o destino cruzasse seu caminho com o de Muddy Waters, que o levou para casa, deu-lhe comida e uma direção.

Logo estava gravando na Chess Records, onde trabalhou como guitarrista de apoio para nomes como Howlin' Wolf, Little Walter, Sonny Boy Williamson II e o próprio Muddy. Era o jovem incendiário, imprevisível, elétrico, selvagem, mas que sabia ceder para o bem da canção.



O nascimento de uma dupla lendária: Buddy & Junior

No final dos anos 50, Buddy encontrou em Junior Wells o parceiro ideal para o caos criativo. Juntos, criaram um dos sons mais intensos do Chicago Blues. O disco "Hoodoo Man Blues", de 1965, é considerado um dos álbuns mais importantes da história do gênero.

Os shows da dupla eram dinamite pura. Buddy subia nas mesas, arrancava sons do amplificador, jogava a guitarra para trás das costas e tocava com os dentes. Jimi Hendrix estava assistindo, e levou para o mundo aquilo que Buddy havia criado nos clubes esfumaçados de Chicago.

Inspiração para uma geração

Com seu estilo visceral e indomável, Buddy Guy se tornou o guitarrista favorito dos guitarristas. "Ele me mostrou que você podia fazer qualquer coisa com a guitarra se tivesse coragem", disse Eric Clapton. Jeff Beck, Jimmy Page, Stevie Ray Vaughan e o próprio Hendrix o citavam como uma das maiores influências.

No entanto, apesar do prestígio entre os músicos, Buddy passou boa parte dos anos 70 e 80 à margem da indústria, sobrevivendo de turnês modestas e do barulho que fazia ao vivo.

O homem que nunca parou de tocar

Mesmo sem apoio das gravadoras, Buddy nunca deixou de subir nos palcos. Com sua Stratocaster flamejante e um grito de alma, mantinha o blues vivo por conta própria. Seu show era (e é) uma missa profana, uma aula de história, uma terapia coletiva.

Ele sabia que sua hora voltaria. E voltou. Mas essa é uma história para a Parte 2, quando falaremos do renascimento de Buddy nos anos 90, dos Grammys, do bar Legends, do legado imortal — e do novo álbum que chega exatamente no dia de seu aniversário: "Ain't Done With The Blues".

Continua amanhã...

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