Willie Kent: O Baixo Poderoso de Chicago
Willie Kent: O Baixo Poderoso de Chicago
Se existe uma linha de baixo que ressoa como um trovão suave em meio à tempestade elétrica do blues de Chicago, ela pertence a Willie Kent. Cantor, compositor e mestre das quatro cordas, Kent foi um dos nomes mais respeitados da cena blues da cidade dos ventos — mas sua trajetória até o estrelato não seguiu a estrada convencional.
Nascido no coração do Delta, no Mississippi, e migrado para Chicago ainda jovem, Kent começou a tocar em clubes locais nos anos 1950. Mas, como tantos músicos de blues, precisou conciliar seu talento com empregos paralelos. Foi caminhoneiro por décadas, guiando pelas estradas da vida enquanto seu contrabaixo esperava pacientemente o chamado da noite.
Foi apenas depois dos 50 anos que Willie Kent mergulhou de cabeça na música, provando que nunca é tarde para viver o blues em tempo integral.
Sugar Bear and the Beehives: o rugido do Ma Bea’s
Na década de 1970, Kent formou uma banda residente no lendário Ma Bea’s Lounge, no lado oeste de Chicago. Sob o nome de Sugar Bear and the Beehives — apelido carinhoso que fazia referência à sua presença marcante — a banda contava com o talento afiado de Willie, James Lyons na guitarra e Robert Plunkett na bateria.
O trio não apenas acompanhava nomes importantes do blues, mas também gravou um dos registros mais autênticos do gênero: o álbum Ghetto, gravado ao vivo no Ma Bea's em 1975. Um disco cru, intenso e honesto, que captura o espírito do clube e o peso emocional de cada nota que saia do baixo de Kent.
"Make Room for the Blues" – Um clássico moderno do blues
Dentre os muitos álbuns que Willie Kent nos deixou, Make Room for the Blues, lançado em 1998 pela Delmark Records, merece um lugar especial na estante de qualquer amante do gênero.
É um disco que transpira maturidade, onde a voz rouca de Kent carrega a dor, a esperança e a sabedoria de quem viveu o blues além do palco. Suas linhas de baixo são sólidas como o concreto de Chicago, mas sempre cheias de groove. As letras falam de amores perdidos, noites solitárias e, claro, da necessidade quase física de fazer espaço para o blues em meio ao caos cotidiano.
Blues até o fim
Mesmo após ser diagnosticado com câncer de cólon no início de 2005, Willie Kent não largou os palcos. Continuou se apresentando, levando seu som a clubes e festivais, mantendo viva a tradição do Chicago Blues com dignidade e paixão.
Faleceu em março de 2006, no bairro de Englewood, Illinois, mas sua música permanece viva. Kent nos deixou um legado de autenticidade e resiliência — um verdadeiro sugar bear que rugiu suavemente contra as adversidades da vida, com seu baixo como escudo e sua voz como espada.
Um nome que o blues não esquece
Willie Kent não buscava os holofotes, mas sua arte brilhou com luz própria. Seu nome pode não estar em todas as listas de grandes lendas, mas entre os verdadeiros conhecedores do blues, ele é reverenciado como um dos pilares do estilo de Chicago.
Se você ainda não escutou Make Room for the Blues, faça um favor a si mesmo: coloque o disco para tocar, feche os olhos e sinta o peso suave do blues de um homem que viveu cada nota.
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