Nuno Mindelis: Blues, não só para o Brasil!

Foto: Vladimir Fernandes

O blog ficou pronto e eu preciso escrever a primeira postagem. Tenho ouvido muita coisa. Artistas novos de blues, aqueles velhos discos que a gente não se cansa de colocar pra tocar e, em especial, um Cara que um dia apareceu na minha frente, com uma demo tape debaixo do braço, e me disse: Eu toco Blues. Confesso que num primeiro momento eu não acreditei, então coloquei a fita rolo no Revox e apertei o play - não era blefe. Nuno Mindelis era e continua sendo um dos melhores guitarristas de blues que já ouvi. Como escreveu Brother Bill na contracapa de seu primeiro álbum, Blues e Derivados. ¨Não é fácil acreditar que, atrás de um par de óculos escuros e vestindo terno e gravata - aliás, seu traje do dia a dia, Nuno seja um dos melhores guitarristas de blues da praça”.

Essa história é longa e o Nuno tem contado um pouco dela em seu canal no YouTube. Nos anos 90 eu recebia muitos artistas independentes na Rádio Brasil 2000 e quando o Nuno apareceu conquistou a equipe toda. Isso foi antes dos grandes festivais de blues que começaram a pipocar pelo Brasil. A cena blueseira nacional estava se formando - jam sessions, bares lotados, gravadoras e selos independentes começavam a lançar artistas de blues pelo país afora. 

Nuno com meu violão Di Giorgio - Foto: Henrique Suzuki

Nuno fez parte de tudo isso e foi além. Na edição de 30 anos da revista Guitar Player foi eleito como Melhor Guitarrista de Blues, pelo lançamento de seu segundo álbum, Long Distance Blues. Em 1995, gravou Texas Bound, ao lado de Chris Layton e Tommy Shannon, integrantes da Double Trouble, banda de Stevie Ray Vaughan. Com a turnê desse álbum, Nuno conquistou os amantes do blues por onde passou - Brasil, EUA e Europa e ainda teve o disco licenciado no velho continente pela especializada Taxim Records, da Alemanha.

A parceria com o Double Trouble continuou em Blues the Outside (1998). Depois, outras bandas e outros sons. Twelve Hours é lançado em 2003 e Nuno volta seu feeling poético ao Brasil em Outros Nunos (2004), com a participação de Zélia Duncan e Rappin’ Hood. Flerta com elementos eletrônicos em Free Blues (2010) e com produção e participação de Duke Robillard e sua banda grava Angels and Clowns (2013).

Um autografo deliciosamente exagerado!

Esse bluesman brasileiro nasceu em Angola e fez uma bela homenagem a sua terra natal no álbum Angola Blues (2020), cantando na língua angolana Kimbundu, misturando ritmos africanos e latino-americanos ao bom e velho blues. O álbum tem a participação do percussionista Airto Moreira e da cantora Flora Purim.

Essa discografia extensa foi permeada ao longo dos anos por apresentações em grandes festivais como o Suwalki Festival, na Polônia, que foi registrado no álbum Live at the Suwalki Festival (2018), Em 2020  foi publicada a sua autobiografia romanceada, Por Que Não Sou Um Bluesman: Seis Mil Anos. No livro, Mindelis é Mintcho, Martim, Macedo e um narrador não identificado na primeira pessoa, cujas descrições fluentes e acuradas levam o leitor aos interstícios de uma guerra crua com cenas eletrizantes, aos amores frustrados e à sua renitente e orgânica relação com a música.

Nuno Mindelis tem usado as plataformas digitais para lançar novos singles e suas Lost Tapes. Recusadas por gravadoras (2024), por exemplo, traz suas primeiras demos. No dia 25 de dezembro, o guitarrista nos presenteou com o single Turn On Your Love Light, música de Bobby Bland, que foi gravada pelo Grateful Dead e faz parte de sua memória “musical” afetiva. A música foi produzida em seu estúdio. Nuno programou a bateria, usou softwares, como um Mellotron para os ataques de metais no refrão e duas guitarras: Uma Dangelico para os solos, que segundo ele “soa bem Les Paul, por ter dois captadores Humbuckers” e uma Shecter Telecaster na base. O som ficou incrível e, pelo visto, aqui em casa, o show da virada vai ser uma playlist com o melhor do melhor de Nuno Mindelis.

Nuníssimo, Feliz Ano Novo! No muro aqui do prédio tá pichado: Mindelis – Brazil’s Guitar God!