Charley Patton: O Pai do Delta Blues

Charley Patton: O Pai do Delta Blues



Charley Patton é um dos nomes mais reverenciados da história do blues. Considerado o "Pai do Delta Blues", Patton foi pioneiro de um estilo que moldaria toda a música americana do século XX. Com sua voz marcante, técnica inconfundível ao violão e letras que refletiam a dura realidade dos afro-americanos do sul dos Estados Unidos, Patton estabeleceu as fundações sobre as quais artistas como Robert Johnson, Muddy Waters e Howlin’ Wolf construiriam suas carreiras.


Origens humildes e raízes profundas no Mississippi


Charley Patton nasceu por volta de 1º de maio de 1891 na Plantation de Hinds County, no estado do Mississippi, embora alguns registros indiquem sua cidade natal como Edwards ou Bolton, também no Mississippi. A incerteza sobre o local exato de nascimento reflete a precariedade dos registros civis de afro-americanos naquele período.

Patton era filho de pais afro-americanos e possivelmente tinha ascendência indígena Choctaw e europeia. Cresceu na Dockery Plantation, uma fazenda algodooeira situada próxima à cidade de Ruleville, que viria a se tornar um dos berços do blues do Delta. Foi lá que ele teve contato com outros músicos e desenvolveu seu estilo inconfundível.


Início da carreira e estilo musical


Aos vinte anos, Charley Patton já era conhecido nas plantações do Delta como um artista itinerante. Seu estilo de tocar violão era agressivo, percussivo e expressivo. Ele tocava com o instrumento no colo, atrás da cabeça e até com os dentes, práticas que mais tarde influenciariam artistas como Jimi Hendrix. Mas seu talento não se resumia ao espetáculo: Patton tinha um domínio absoluto da linguagem do blues, combinando ragtime, música gospel, hillbilly e folk em suas composições.

Sua voz rouca e potente, carregada de emoção, era capaz de alcançar multidões mesmo sem amplificação. Suas letras tratavam de temas como injustiça social, problemas amorosos, religião, bebidas e as agruras da vida nos campos do sul segregado.



Primeiras gravações e sucesso


Em 1929, Patton foi levado a Richmond, Indiana, para gravar pela Paramount Records, uma das poucas gravadoras da época que investia em artistas negros. Entre suas primeiras gravações estavam músicas como "Pony Blues", "Banty Rooster Blues" e "Down the Dirt Road Blues", que rapidamente se tornaram clássicos do gênero. Sua música era distribuída em discos de 78 rpm e tocada em gramofones por toda a região sulista, fazendo dele uma espécie de superstar do blues em sua época.

Patton também ajudou a lançar as carreiras de outros grandes nomes do blues. Foi mentor de Howlin’ Wolf, ensinando-o a tocar violão e incentivando-o a desenvolver sua voz grave e imponente. Tocou com artistas como Willie Brown, Son House e sua companheira musical e amorosa, Bertha Lee.


Vida conturbada e morte prematura


A vida de Charley Patton foi marcada por constantes viagens, festas, relacionamentos tumultuados e episódios de violência — uma realidade comum entre os músicos itinerantes do Delta naqueles tempos. Mesmo com o sucesso, viveu em condições precárias e enfrentou dificuldades econômicas ao longo de toda a carreira.

Patton faleceu em 28 de abril de 1934, aos 42 anos, vítima de uma insuficiência cardíaca. Morreu na plantação Heathman-Dedham, próxima a Indianola, Mississippi, onde foi enterrado. Seu túmulo, por muito tempo não identificado, hoje tem uma lápide instalada graças aos esforços do músico John Fogerty, vocalista do Creedence Clearwater Revival, que financiou o monumento.


Legado imortal


Charley Patton é amplamente reconhecido como uma das figuras mais importantes da música norte-americana. Sua influência atravessa gerações e estilos, do blues ao rock, do folk ao country. Em 2006, foi introduzido postumamente no Blues Hall of Fame, e seu nome é citado frequentemente entre os fundadores da tradição musical que levou ao surgimento do rock ‘n’ roll.

Hoje, Charley Patton é celebrado não apenas por seu talento inato, mas por ter dado voz aos que não tinham, retratando com honestidade brutal o sofrimento, a alegria e a resistência do povo negro do sul dos Estados Unidos.


Conclusão


Entender o blues é, em parte, entender a vida e a música de Charley Patton. Sua arte ecoa até os dias de hoje, influenciando músicos e emocionando ouvintes em todo o mundo. O Delta Blues tem muitos ícones, mas foi Patton quem esculpiu seus contornos mais profundos. Ele não apenas tocava blues — ele era o blues.


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