Alexis Korner: O Pai do Blues Britânico

Alexis Korner: O Pai do Blues Britânico


Se existe um nome que pode ser considerado a pedra fundamental do blues britânico, esse nome é Alexis Korner. Músico, apresentador de rádio e verdadeiro entusiasta do gênero, Korner foi a força catalisadora por trás de uma cena que revelou nomes como Rolling Stones, Eric Clapton, John Mayall e muitos outros. Neste artigo do Todo Dia Um Blues, vamos conhecer a trajetória desse gigante que moldou o som de uma geração.


O Começo de Tudo: A Faísca de Jimmy Yancey


Nascido em Paris em 1928, de pai austríaco e mãe grega, Alexis Korner mudou-se ainda criança para a Inglaterra. Foi lá que, durante a Segunda Guerra Mundial, teve contato com um disco do pianista Jimmy Yancey. Aquela gravação foi um divisor de águas em sua vida. O som cru e visceral de Yancey despertou em Korner uma paixão arrebatadora pelo blues – paixão essa que o acompanharia até o fim de sua vida.


Cyril Davies e o Nascimento do Blues Britânico


Nos anos 50, Korner conheceu o gaitista Cyril Davies, outro apaixonado por blues que, como já falamos aqui no blog, também foi essencial na difusão do gênero no Reino Unido. Juntos, fundaram o London Blues and Barrelhouse Club, trazendo músicos norte-americanos como Muddy Waters para apresentações históricas em solo britânico. A parceria rendeu frutos ainda mais importantes em 1961, com a criação da lendária Blues Incorporated.



Blues Incorporated: A Semente da Revolução


A Blues Incorporated não era apenas uma banda – era uma verdadeira escola de blues. Entre seus membros e colaboradores passaram nomes que se tornariam lendas: Mick Jagger, Charlie Watts, Jack Bruce, Ginger Baker e Brian Jones. Korner criava um espaço livre para experimentação e improviso, conectando o blues tradicional com as novas linguagens do rock e do jazz. Seu álbum de estreia, "R&B from the Marquee" (1962), é um marco absoluto.

Para essa empreitada, Korner convocou Graham Burbidge para bateria e Spike Heatley, no baixo. Completando o elenco Cyrill Davies, "Long John" Baldry, Dick Heckstall-SmithKeith Scott. Além disso, o guitarrista de estúdio "Big Jim" Sullivan contribui com os backing vocals em "I Got My Mojo Working", e Terry Wadmore, do Ted Taylor Four, toca baixo na mesma 

"R&B from the Marquee" é um documento essencial da cena britânica em ebulição. Com interpretações enérgicas de clássicos do blues, como “Hoochie Coochie Man”, “I Got My Mojo Working” e as composições de Alexis, "Finkel's Cafe" e "Down Town" o álbum mostra a potência da Blues Incorporated ao vivo. Embora tenha sido gravado nos estúdios da Decca em West Hampstead, sua proposta era recriar o espírito dos shows no lendário Marquee Club, capturando a crueza e urgência do blues elétrico. Alexis Korner brilha com sua guitarra rítmica precisa, enquanto Cyril Davies explode com vocais roucos e gaita afiada. É obrigatório para qualquer fã de blues.


A Voz do Blues no Rádio


Além dos palcos, Korner foi um divulgador incansável do gênero por meio do rádio. Seus programas na BBC, como "Alexis Korner’s Blues and Soul Show", apresentaram ao público britânico uma infinidade de artistas negros norte-americanos e também revelaram talentos locais. Sua voz grave e seu conhecimento enciclopédico tornaram-no uma referência para ouvintes e músicos.


Anos 70: The Collective Consciousness Society


Nos anos 70, Korner explorou novas sonoridades com o grupo The Collective Consciousness Society (C.C.S.), uma big band que misturava blues, jazz, soul e rock. O grupo fez sucesso com uma versão poderosa de “Whole Lotta Love”, usada como tema do programa “Top of the Pops”. A C.C.S. mostrou que Korner estava longe de ser apenas um purista: ele era um inovador nato.


O Adeus ao Mestre


Infelizmente, Alexis Korner foi diagnosticado com câncer de pulmão e faleceu em 1º de janeiro de 1984, em Londres, aos 55 anos. Sua morte foi um baque para a cena musical, mas seu legado permanece vivo. Sem ele, o blues britânico talvez nunca tivesse existido como o conhecemos.


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