Albert King: O Rei da Flying V e o Som que Moldou o Blues Contemporâneo
Albert King: O Rei da Flying V e o Som que Moldou o Blues Contemporâneo
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Foto: Phil Bray |
Albert King não era apenas grande em estatura — com seus quase dois metros de altura e mãos capazes de envolver o braço de uma guitarra como se fosse um brinquedo — ele foi também um dos gigantes do blues elétrico. Nascido em 25 de abril de 1923, em Indianola, Mississippi (a mesma cidade natal de B.B. King), Albert Nelson, mais tarde conhecido como Albert King, ajudou a transformar o blues tradicional em uma linguagem moderna, visceral e absolutamente cativante.
As raízes e a construção de um estilo único
Antes de se tornar um dos "Três Reis do Blues" — ao lado de B.B. King e Freddie King — Albert viveu uma vida marcada por dificuldades e trabalho duro. Cresceu colhendo algodão, aprendeu a tocar guitarra sozinho e desde cedo já mostrava um talento incomum. Esquerdino, tocava uma guitarra para destros, mas de cabeça para baixo e sem inverter as cordas. Essa técnica inusitada produzia bends e vibratos inconfundíveis, que se tornariam sua marca registrada.
O instrumento que o consagrou foi a icônica Gibson Flying V, que ele começou a usar no final dos anos 50. Com sua aparência futurista e som encorpado, a Flying V virou uma extensão natural de sua personalidade e potência musical. Mas o que realmente tornava sua música especial era a combinação de sua guitarra com uma voz suave de barítono, uma característica rara entre os grandes nomes do blues, que trouxe uma profundidade emocional singular às suas canções.
A era Stax/Volt e a reinvenção do blues
Foi em Memphis, ao assinar com o lendário selo Stax Records, que Albert King encontrou o ambiente ideal para florescer artisticamente. Ali, com o apoio da incrível banda Booker T. & the MG’s e da seção de sopros do The Memphis Horns, ele deu vida ao que hoje chamamos de blues contemporâneo — uma fusão elegante e poderosa de Delta blues com a energia rítmica e o groove da soul music.
Em 1967, Albert lançou sua obra-prima: o álbum Born Under a Bad Sign. Um verdadeiro divisor de águas no blues moderno.
Born Under a Bad Sign: O auge de um mestre
Poucos discos têm a importância histórica e musical de Born Under a Bad Sign. Cada faixa pulsa com uma combinação certeira de técnica, emoção e inovação. A faixa-título, composta por William Bell e Booker T. Jones, é um hino do blues moderno — direta, poderosa e com um riff que virou referência instantânea para guitarristas do mundo inteiro.
Outros destaques do disco incluem:
"Laundromat Blues" – um slow blues denso, cheio de melancolia e lirismo urbano.
"Oh Pretty Woman" – não confundir com a música de Roy Orbison; aqui, Albert entrega um groove irresistível e vocais sedutores.
"Crosscut Saw" – uma reinterpretação de Tommy McClennan, onde Albert moderniza o Delta blues com uma pegada funkeada e dançante.
A influência do álbum foi imediata. Bandas como Cream, com Eric Clapton, e a Paul Butterfield Blues Band se apressaram em gravar versões de suas músicas, levando o som de Albert King para públicos ainda maiores e consolidando sua influência no rock britânico e no blues branco americano.
O legado imortal de Albert King
Albert King morreu em 21 de dezembro de 1992, mas seu legado está mais vivo do que nunca. Sem ele, talvez não existisse o blues como o conhecemos hoje. Sua abordagem inovadora da guitarra, seu timbre vocal envolvente e sua visão musical criaram uma ponte entre o blues do campo e o som urbano moderno.
É justo dizer que Born Under a Bad Sign é o ponto mais alto de sua carreira. E sim, sem dúvida — é o melhor álbum de Albert King. Nele, tudo se encaixa: a guitarra cortante, os arranjos sofisticados, os vocais expressivos e uma banda de apoio afiada como navalha. Um disco que não envelhece, que influencia gerações e que ainda arrepia cada vez que a agulha toca no vinil — ou o dedo pressiona o play.
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