T-Bone Walker: "Não Canto Nada Além de Blues"

T-Bone Walker: "Não Canto Nada Além de Blues"


Foto: Chris Morphet/Redferns


T-Bone Walker, o lendário pioneiro do blues elétrico, deixou um legado musical que transcende décadas e fronteiras. Nascido como Aaron Thibeaux Walker em 1910, no Texas, ele redefiniu o papel da guitarra no blues, imortalizando-a como um veículo de expressão poderosa e emocionante. Com sua presença de palco magnética, sua habilidade pra tocar guitarra por trás das costas e seu estilo fluido e inventivo, T-Bone inspirou gerações de músicos, dos reis do blues aos gigantes do rock.

Não é fácil escolher um álbum de T-Bone, a discografia é grande e abrange diferentes décadas. Dessa vez coloquei três discos pra tocar, que acredito, sejam fundamentais pra sacar a importância do homem:



"T-Bone Blues" (1959): Este álbum é um verdadeiro testamento ao espírito de Walker. Ele encapsula sua abordagem sofisticada ao blues, unindo suas raízes texanas ao jazz das big bands. Faixas como “Call It Stormy Monday (But Tuesday Is Just as Bad)” exibem sua habilidade como contador de histórias e mestre da guitarra, com solos repletos de alma e melodia que ecoaram nos trabalhos de B.B. King, Eric Clapton e muitos outros. É um álbum que ainda soa fresco, mesmo sendo um dos primeiros exemplos de blues elétrico gravado.



"Good Feelin'" (1968): "Good Feelin'" é uma obra-prima que mostra a habilidade de T-Bone Walker de se reinventar sem perder sua essência. Gravado em Paris, em 1968, o álbum reflete o olhar internacional para o blues, com Walker explorando novas possibilidades sonoras em colaboração com músicos de destaque. Entre os artistas envolvidos, destacam-se Manu Dibango, lendário saxofonista camaronês, e Michel Sardaby, pianista francês de talento refinado, que agregaram camadas de sofisticação e frescor às composições. Lançado em uma época em que o blues se via influenciado por outros gêneros como o soul e o jazz, "Good Feelin'" traz arranjos vibrantes e acessíveis que dialogavam com as mudanças culturais e musicais do final dos anos 1960. Este trabalho ganhou um reconhecimento mais que merecido ao ser agraciado com o Grammy de "Melhor Gravação Étnica ou Tradicional" em 1970, solidificando sua importância na história da música. 



"Every Day I Have the Blues" (1969): Ah!, a música de Peter Chatman que já foi regravada por tanta gente e serviu de inspiração para o nome desse blog, abre o disco, com uma levada fantástica. Essa faixa simboliza o blues universal: um lamento e uma celebração ao mesmo tempo, carregando o ouvinte para um espaço de reflexão e libertação emocional. Sua execução era impecável, tanto na estrutura musical quanto na profundidade emocional. O disco ainda conta com faixas memoráveis como "Vietnam" , um protesto potente, "Shake It Baby", de outro mestre, John Lee Hooker e "For BB King", onde o professor presta homenagem ao seu aluno.

T-Bone Walker foi um dos primeiros músicos a amplificar a guitarra no blues, criando solos que passaram a definir o gênero e abrir caminho para o que viria a ser o rock and roll. Sua carreira estendeu-se por décadas, e ele compartilhou sua arte com uma elegância que era única. Ele não apenas tocou blues; ele o transformou em arte performática. Walker tinha a rara habilidade de unir emoção crua com refinamento técnico, criando um som que era ao mesmo tempo acessível e sofisticado.

Mesmo após meio século, desde sua partida em 16 de março de 1975, a música de T-Bone Walker continua ecoando, como uma fonte de inspiração para músicos e apaixonados pelo blues. Sua genialidade transcendeu gerações, redefinindo a guitarra elétrica como um instrumento de poder emocional e sofisticação técnica. Enquanto recordamos sua influência revolucionária no cenário musical, honramos não apenas o artista, mas o visionário que transformou o blues em uma linguagem universal. O som de T-Bone Walker permanece vivo, pulsando com a alma e a criatividade que ele generosamente compartilhou com o mundo. Como ele mesmo disse: " Meu nome é T-Bone Walker, o que significa que não canto nada além de blues". Então vamos aos blues ...


 
 
 
 

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