Fenton Robinson: a sensibilidade profunda do blues entre Mississippi e Chicago
Fenton Robinson: a sensibilidade profunda do blues entre Mississippi e Chicago
Fenton Lee Robinson foi um dos mais singulares guitarristas e cantores da história do blues americano, cuja musicalidade sutil e elegante encontrou voz própria entre o som cru das ruas de Chicago e as tradições profundas do Delta do Mississippi. Nascido em Greenwood, Mississippi, em 23 de setembro de 1935, Robinson construiu uma carreira marcada pela sofisticação melódica da guitarra, uma voz rica e emotiva e canções que se tornaram clássicos atemporais do gênero. Sua trajetória atravessou décadas de transformações na música negra americana, e deixou um legado indelével no blues tradicional e moderno.
Da infância no Mississippi ao despertar musical
Crescido em um ambiente permeado pelas raízes do blues, Fenton Robinson ouviu desde cedo o trabalho de mestres como T-Bone Walker — cuja guitarra jazzística influenciaria profundamente seu estilo — e se apaixonou pela música que emergia das rádios e dos bares do Sul dos Estados Unidos. Ainda na adolescência, aos 16 anos, mudou-se para Memphis, Tennessee, decidido a se dedicar à música. Foi ali que começou a desenvolver sua linguagem única, combinando influências do blues do Texas, jazz e o estilo urbano de Chicago, criando um timbre de guitarra lírico e uma presença vocal que se tornaria sua marca registrada.
Ascensão nos circuitos de blues e primeiras gravações
Antes mesmo de se tornar nome conhecido, Robinson já circulava pelos clubes e bares do Sul dos Estados Unidos, ganhando experiência e respeito. Seu primeiro single, "Tennessee Woman", gravado para o selo Meteor, chamou a atenção de aficionados, mas foi sua mudança para Chicago em 1962 que realmente consolidou sua carreira. Na cidade que respirava blues, Robinson gravou uma série de singles para selos como U.S.A., Giant e Palos, incluindo a primeira versão de sua composição mais famosa, "Somebody Loan Me a Dime", em 1967 — música que se tornaria um dos hinos do blues e foi reinterpretada por diversos artistas ao longo dos anos.
O impacto do primeiro álbum pela Alligator Records
No auge de sua maturidade artística, Fenton Robinson assinou com a lendária Alligator Records, selo fundamental para a difusão do blues elétrico nos anos 1970. Em 1974, lançou seu primeiro álbum pela gravadora, Somebody Loan Me a Dime, considerado um marco em sua discografia e um dos primeiros grandes sucessos do catálogo da Alligator. O álbum mescla elementos do blues de Chicago com nuances de jazz e soul, exibindo a guitarra sutil e profundamente expressiva de Robinson, assim como sua voz inconfundível — ao mesmo tempo poderosa e introspectiva.
Somebody Loan Me a Dime não só consolidou Robinson como um compositor e guitarrista de referência, como também o colocou em destaque na cena blues internacional, sendo amplamente elogiado pela crítica e reverenciado por fãs do gênero. Com faixas que exploram tanto grooves cadenciados quanto passagens emotivas, o álbum é frequentemente apontado como essencial para entender a evolução do blues elétrico nos anos 1970.
Carreira continuada e reconhecimento artístico
Após o sucesso de seu álbum de estreia pela Alligator, Robinson lançou dois registros importantes pela gravadora: I Hear Some Blues Downstairs (1978) — um trabalho que reafirma sua originalidade como compositor — e Nightflight (1984), este último gravado em meio a uma fase mais madura de sua carreira musical.
Ao longo desses anos, além de gravar seus próprios álbuns, Robinson colaborou e tocou com lendas do blues como Sonny Boy Williamson, Junior Wells e outros grandes nomes do circuito. Sua música continuou a influenciar artistas contemporâneos, e clássicos como “Somebody Loan Me a Dime” foram regravados por músicos de diferentes gerações, consolidando sua importância no cânone do blues.
Desafios pessoais e dedicação ao ensino
Apesar de seu talento indiscutível, Fenton enfrentou desafios tanto pessoais quanto profissionais ao longo da vida. Em um episódio difícil, foi preso por nove meses relacionado a um acidente de automóvel no final dos anos 1960, período que interrompeu parte de sua trajetória musical.
Nos anos finais, frustrado com a recepção mais ruidosa do público em alguns ambientes de blues e buscando uma conexão mais profunda com as raízes da música, Robinson mudou-se para Springfield, Illinois, onde se dedicou à educação musical. Trabalhou com estudantes, ensinando a história e técnica do blues, e encontrou grande satisfação em transmitir seu conhecimento às novas gerações, organização que refletia seu compromisso com o legado cultural do gênero.
Últimos anos e legado duradouro
Fenton Robinson passou seus últimos anos em Rockford, Illinois, ainda atuando ocasionalmente e sendo convidado para eventos importantes, como o Chicago Blues Festival de 1995, diante de mais de 100.000 pessoas.
Ele morreu em 25 de novembro de 1997, aos 62 anos, vítima de complicações de um câncer cerebral, deixando um legado que atravessou décadas e continua a inspirar músicos e amantes do blues em todo o mundo.
O impacto de Fenton Robinson no blues
O legado de Fenton Robinson reside não apenas em sua técnica afinada e sensibilidade musical, mas também na forma como uniu diferentes tradições do blues em um estilo próprio, influenciado por jazz, soul e a profunda herança do Delta. Sua carreira representa um importante capítulo na história do blues elétrico, lembrado pela elegância de sua guitarra e pela autenticidade de suas composições.
Somebody Loan Me a Dime, seu primeiro álbum pela Alligator Records, permanece até hoje como um testemunho da genialidade de Robinson — um artista cuja música ultrapassou fronteiras e resistiu ao tempo, ecoando nas guitarras e vozes de todos aqueles que ouvirem o verdadeiro espírito do blues.


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