Blind John Davis: um pianista com swing e profundidade
Blind John Davis: um pianista com swing e profundidade
Blind John Davis tocava seu piano de maneira elegante, às vezes jazzística, com som robusto e cheio de balanço. Sua presença silenciosa moldou o som de Chicago muito antes de o mundo entender o tamanho de seu talento.
Nascido em Hattiesburg, Mississippi, em 1913, e ainda criança levado para a efervescente Chicago, Davis cresceu justamente no ponto em que a tradição do sul encontrava o novo blues urbano. Foi ali, entre os becos, salões e clubes da cidade, que ele depurou seu estilo: um toque limpo, articulado, com forte acentuação rítmica e uma elegância singular, capaz de elevar qualquer gravação.
Os anos mágicos de estúdio: 1937 a 1942
Entre 1937 e 1942, Blind John Davis viveu uma fase decisiva. Sua técnica refinada e seu senso de acompanhamento impecável o tornaram um dos pianistas mais requisitados da época.
Gravou com Big Bill Broonzy, Sonny Boy Williamson I, Tampa Red, Lonnie Johnson, Honeyboy Edwards e uma lista interminável de artistas que hoje ocupam o panteão do blues. Era ele quem dava sustentação, swing e profundidade aos takes, muitas vezes definindo a atmosfera da gravação com poucas notas bem colocadas.
Enquanto alguns vocalistas e guitarristas disputavam espaço na linha de frente, Davis construía sua reputação nos bastidores, sempre presente, sempre decisivo — um arquiteto do som.
A década de 1940 e a maturidade artística
Com a chegada dos anos 1940, Blind John Davis já era considerado um músico maduro, disciplinado e de confiança absoluta. Nesta fase, ele se aprofundou ainda mais na linguagem do boogie-woogie e do piano blues tradicional, dialogando com novas correntes e mantendo a pegada robusta que o distinguia de tantos outros pianistas da cena.
Foi também nesse período que ele se juntou ao lendário Lonnie Johnson, ampliando seu alcance e consolidando sua imagem não apenas como acompanhante, mas como artista completo.
A Europa o descobriu primeiro
No início da década de 1950, Blind John Davis embarcou em uma excursão europeia ao lado de Big Bill Broonzy. Esse momento transformou sua vida e sua carreira.
Se nos Estados Unidos ele era frequentemente subestimado — reconhecido, mas não celebrado —, na Europa acontecia o oposto: o público o reverenciava, os críticos o exaltavam, e os músicos locais o tratavam como mestre.
O continente o recebeu como poucos pianistas de blues haviam sido recebidos até então. Seus shows eram elogiados pela precisão, pela alma e pela fluidez de seu piano. Era como se, do outro lado do Atlântico, finalmente tivessem entendido a grandeza de seu toque.
O legado de um pianista monumental
Blind John Davis nunca precisou de extravagâncias. Ele deixou um legado que se sustenta na música em si — sólida, elegante, profunda e histórica. Gravou menos do que merecia, mas tocou com todos que importavam. Deu ao piano blues uma voz poderosa e respeitosa, fiel às tradições e aberta ao futuro.
Faleceu em 1985, em Chicago, a cidade que moldou seu caráter musical. Partiu como um dos grandes pianistas do blues norte-americano, reconhecido especialmente pelos que entendem que o blues, como ele mesmo provava, é antes de tudo uma conversa íntima entre o artista e seu instrumento.
E Blind John Davis conversava com o piano como poucos — com delicadeza, verdade e uma firmeza que atravessa décadas.

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