Alexis P. Suter Band: voz, raízes e permanência no blues contemporâneo

Alexis P. Suter Band: voz, raízes e permanência no blues contemporâneo


Foto: Laura Carbone


A trajetória da Alexis P. Suter Band é construída sobre algo que não se aprende em conservatórios nem se simula em estúdio: vivência musical. Liderado pela cantora Alexis P. Suter, o grupo representa um elo vivo entre o gospel, o soul e o blues elétrico, mantendo essas tradições em diálogo direto com o presente.

Brooklyn, igreja e formação musical

Alexis P. Suter nasceu em 15 de fevereiro de 1963, no Brooklyn, Nova York, em um ambiente onde a música não era acessório, mas linguagem cotidiana. Filha da cantora e preparadora vocal Carrie Suter, Alexis cresceu cercada por vozes, corais e referências profundas da música afro-americana. Ainda criança, começou a cantar em corais de igreja, experiência que moldou não apenas sua técnica, mas sobretudo sua relação emocional com a música.

Esse contato precoce com o gospel, o soul e o rhythm & blues ajudou a construir uma cantora de identidade rara: dona de um timbre grave, encorpado, com alcance dramático e capacidade de transformar cada canção em relato pessoal.

O nascimento da banda

A Alexis P. Suter Band começou a se formar nos anos 2000, a partir da aproximação de Alexis com músicos da cena de blues e roots do nordeste dos Estados Unidos. Mais do que um projeto solo acompanhado, a banda se consolidou como um coletivo musical sólido, com forte interação entre voz, guitarras e base rítmica.

Um ponto decisivo nessa trajetória foi a presença constante do grupo nos lendários encontros do Midnight Ramble, idealizados por Levon Helm, em Woodstock. Alexis tornou-se presença frequente nesses eventos, dividindo o palco com músicos experientes e conquistando respeito em um dos ambientes mais exigentes do blues moderno.

Formação e dinâmica musical

Ao longo dos anos, a banda passou por ajustes naturais de formação, mantendo sempre sua essência. Entre os músicos que ajudaram a construir sua sonoridade estão:

Alexis P. Suter – vocais
Jimmy Bennett – guitarra
Peter Bennett – baixo e vocais
Ray Grappone – bateria e percussão
Vicki Bell – vocais de apoio

Em gravações e apresentações ao vivo, o grupo também contou com a participação de tecladistas e músicos convidados, reforçando o caráter colaborativo de sua música.

Estilo, voz e identidade

O som da Alexis P. Suter Band se apoia em pilares clássicos — blues elétrico, soul blues, gospel e rock de raiz —, mas evita a repetição automática de fórmulas. O centro gravitacional é sempre a voz de Alexis: expressiva, densa, emocionalmente comprometida.

Suas interpretações não buscam virtuosismo vazio. Cada verso soa vivido, carregando histórias de dor, resistência, amor e sobrevivência. É um blues que não imita o passado, mas o respeita profundamente.

Discografia e registros

A banda construiu uma discografia consistente, alternando registros de estúdio e gravações ao vivo, sempre preservando a energia das performances. Entre os álbuns mais representativos estão:

Shuga Fix (2005)
Live at the Midnight Ramble (2006)
Just Another Fool (2008)
Two Sides (2011)
Love the Way You Roll (2014)
All for Loving You (2016)
Be Love (2019)

Esses trabalhos reforçaram a reputação da banda como um dos nomes mais autênticos do blues contemporâneo norte-americano.

Reconhecimento e premiações

Ao longo de sua carreira, Alexis P. Suter recebeu diversas indicações ao Blues Music Awards, nas categorias voltadas ao soul blues, blues tradicional e blues contemporâneo. Mais do que troféus, essas indicações refletem o respeito conquistado dentro da comunidade do blues.

Just Stay High: maturidade e continuidade

Lançado em junho deste ano, Just Stay High marca um novo capítulo na trajetória da Alexis P. Suter Band. O álbum reafirma tudo o que construiu a identidade do grupo ao longo dos anos: canções diretas, arranjos firmes e uma interpretação vocal profundamente humana.

Mais do que um ponto de chegada, o disco soa como afirmação de permanência. Just Stay High mostra uma artista em pleno domínio de sua voz, consciente de suas raízes e confortável em seu lugar no blues contemporâneo. É um trabalho que conversa com o passado, mas caminha com os pés fincados no agora.

Em um cenário onde o blues muitas vezes luta por espaço, a Alexis P. Suter Band segue lembrando que o blues não precisa ser reinventado — precisa ser sentido, respeitado e vivido.


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