George "Mojo" Buford: o homem que fez a gaita conversar com o blues
George "Mojo" Buford: o homem que fez a gaita conversar com o blues
Nascido em 10 de novembro de 1929, em Hernando, Mississippi, George "Mojo" Buford foi um daqueles homens que fizeram da gaita um instrumento de pura emoção. Sua vida cruzou o sul dos Estados Unidos com as esquinas frias de Chicago e, por onde passou, deixou o som do Mississippi misturado à força elétrica do blues urbano. Com seu timbre intenso e alma inquieta, Buford foi muito mais do que um gaitista: foi um contador de histórias através do sopro.
Da terra do algodão às ruas de Chicago
O jovem George cresceu ouvindo os ecos dos campos de trabalho, o murmúrio dos spirituals e o lamento das guitarras que ecoavam nas noites do Mississippi. Ainda garoto, se mudou para Memphis e logo mergulhou de vez na música. A gaita o escolheu — e, como tantos músicos de sua geração, ele foi levado pelo vento do norte, rumo a Chicago, onde o blues ganhava corpo e eletricidade.
Nos anos 1950, Buford fundou sua própria banda, The Savage Boys, e passou a acompanhar artistas nos clubes mais efervescentes da cidade. Foi nesse ambiente que conheceu Muddy Waters, o homem que mudaria o rumo de sua vida. A conexão entre os dois foi instantânea: Buford tinha o sopro preciso e o coração alinhado ao ritmo do blues moderno. Em 1959, ele se tornou o gaitista oficial da banda de Muddy — um posto que o colocaria na história.
O som de Mojo
Buford não era apenas um músico técnico; ele era um intérprete emocional. Sua gaita falava como uma voz humana — chorava, sussurrava, gritava. Foi com Muddy Waters que gravou clássicos como “I Got My Mojo Working”, e foi justamente dessa música que veio o apelido “Mojo”. O termo se tornaria parte inseparável de sua identidade, uma espécie de talismã sonoro que o acompanharia por toda a vida.
Nos palcos, Mojo Buford era uma tempestade controlada. Tocava com o corpo inteiro, dançava com o microfone e fazia da gaita um prolongamento da alma. Era o tipo de artista que sentia cada nota, e transmitia isso com uma autenticidade impossível de ensaiar. Seu estilo misturava a crueza do Delta com a urgência do blues elétrico de Chicago — uma fusão que o tornava único.
De volta à estrada
Após algumas temporadas com Muddy Waters, Mojo seguiu carreira solo, formando a Mojo Blues Band e excursionando pelos Estados Unidos e Europa. Em sua discografia, álbuns como “Chicago Blues Summit” e “Still Blowin’ Strong” revelam a força de um músico que, mesmo nascido nas margens da segregação, alcançou um público mundial com seu talento e carisma.
Mojo era um sobrevivente da velha guarda, mas também um homem que sabia se reinventar. Tocou em festivais, participou de gravações com grandes nomes e manteve-se fiel ao espírito do blues até o fim. Mesmo quando o corpo já não acompanhava o ritmo da estrada, a gaita ainda respondia com vigor. E isso bastava.
Um sopro que não se apaga
George "Mojo" Buford faleceu em 11 de outubro de 2011, aos 81 anos, em Minneapolis, Minnesota. Partiu discretamente, como muitos gigantes do blues. Mas seu som — aquele lamento metálico da gaita — ainda ressoa nas gravações, nos discos antigos, nas memórias de quem o viu em ação.
Buford era um símbolo de resistência e paixão. Em sua trajetória, há a história de um homem que acreditou no poder transformador da música. Um homem que, ao soprar sua gaita, fazia o mundo parar por alguns segundos para ouvir o coração do blues batendo vivo, firme, eterno.
Legado e influência
Hoje, quando se fala em gaitistas lendários, o nome de Mojo Buford aparece entre os grandes — ao lado de Little Walter, James Cotton e Junior Wells. Sua influência ecoa entre músicos de gerações seguintes, que aprenderam com ele o valor da simplicidade e da emoção crua. O blues, afinal, não se mede por técnica, mas por entrega. E nisso, Mojo foi absoluto.
Seu nascimento é celebrado como o surgimento de um artista que soube transformar o ar em poesia e o sopro em eternidade. Um bluesman que viveu e morreu com um propósito claro: manter a chama acesa do blues verdadeiro.
George “Mojo” Buford foi, e sempre será, o homem que fez a gaita conversar com a alma do mundo.
Happy birthday, Mojo. O blues ainda sopra por você.
© Todo Dia Um Blues — texto original produzido por DeltaBot


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