Melvin Taylor: magia nas cordas da guitarra

Melvin Taylor: magia nas cordas da guitarra 



Em meio ao frio cortante de Chicago, há um som que aquece a alma: o de Melvin Taylor. Sua guitarra fala como quem reza, chora e ri. É a linguagem do blues traduzida em notas rápidas, limpas e incendiárias. Desde cedo, ele entendeu que a música podia ser o espelho de um coração inquieto — e transformou cada solo em um grito de liberdade.

Os primeiros acordes

Nascido em 13 de março de 1959, em Jackson, Mississippi, Melvin Taylor cresceu cercado pela tradição do blues. Ainda criança, mudou-se com a família para Chicago, onde o gênero pulsava nas esquinas e nos clubes esfumaçados do West Side. Autodidata, aprendeu a tocar guitarra aos seis anos, ouvindo discos de B.B. King, Albert King, Jimi Hendrix e Wes Montgomery. O pequeno Melvin descobriu cedo que o instrumento era sua voz — e que cada acorde podia dizer o que as palavras não alcançavam.

A estrada do blues

Na adolescência, Melvin integrou uma banda local chamada The Transistors, mergulhando em sons que misturavam soul, funk e blues. No entanto, foi nas casas noturnas de Chicago que sua verdadeira identidade floresceu. O Rosa’s Lounge se tornou seu templo, onde ele lapidou o estilo feroz e elegante que o tornaria conhecido no mundo inteiro. Durante os anos 80, excursionou pela Europa com a Legendary Blues Band, ao lado de nomes como Pinetop Perkins e Willie “Big Eyes” Smith. A plateia estrangeira, acostumada aos ídolos do passado, se rendeu a esse novo mago das seis cordas.



O auge e as grandes gravações

Em 1982, lançou seu primeiro álbum, Blues on the Run, gravado em Paris. O disco é puro fogo: riffs velozes, improvisos incendiários e uma pegada que equilibra virtuosismo e emoção. Dois anos depois veio Plays the Blues for You, que consolidou seu nome na cena internacional. Na década seguinte, Melvin formou a Slack Band e gravou uma sequência de álbuns poderosos, entre eles Melvin Taylor & The Slack Band (1995) e Dirty Pool (1997), este último considerado uma das obras-primas do blues moderno.

No ano 2000, lançou Bang That Bell, um trabalho ousado que mistura blues, rock e funk sem perder o peso das raízes. Cada faixa é uma explosão de técnica e sentimento. O som de sua Stratocaster parece conversar com Hendrix, rir com Albert Collins e rezar com B.B. King. Melvin nunca se prendeu a rótulos — sempre foi um guitarrista que segue o som do coração.

Legado e influência

Melvin Taylor é um dos grandes representantes do blues elétrico contemporâneo. Seu estilo une a precisão do jazz com a intensidade do rock e a alma do blues tradicional. Sua técnica de bends longos, o domínio do wah-wah e o timbre cortante o colocam entre os guitarristas mais expressivos de sua geração. Artistas jovens citam seu nome como referência, e críticos o chamam de “herdeiro natural da linhagem de Hendrix”.

Mas o segredo de Melvin está além da técnica. Ele toca como quem conversa com a dor, com o amor, com o tempo. Em suas mãos, a guitarra é mais do que um instrumento: é uma extensão da alma.

O blues é um rio que segue correndo

Melvin Taylor continua em atividade, tocando nos clubes de Chicago e em festivais pelo mundo. Sua presença no palco é magnética — um show de blues, energia e elegância. Aos poucos, ele se transformou em uma lenda viva, alguém que honra o passado e empurra o blues para o futuro. Sua música prova que o gênero está muito longe de ser um relicário: é um rio que segue correndo, cheio de vida e emoção.

Melvin Taylor é o som do Mississippi reinventado em Chicago, um alquimista que faz o blues vibrar entre o sagrado e o elétrico. Quando ele toca, o tempo para. O que resta é o brilho das cordas e a certeza de que o blues ainda respira — e respira fundo.


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