Kelly Richey: a força elétrica de uma guitarrista de blues rock

Kelly Richey: a força elétrica de uma guitarrista de blues rock



Há artistas que não apenas tocam o blues, mas o transformam em uma experiência visceral. Kelly Richey é uma dessas forças da natureza: guitarrista incendiária, compositora intensa e performer arrebatadora, cuja trajetória se mistura à própria energia crua do gênero. Com quase quatro décadas de carreira, Richey construiu um legado que a consagra como uma das grandes guitarristas da cena contemporânea, reverenciada tanto pelo domínio técnico quanto pela capacidade de levar sua plateia a um estado de transe coletivo.

A jovem incendiada pelo blues

Kelly Richey nasceu em Kentucky e, desde cedo, foi fisgada pelo poder da guitarra. Suas primeiras influências atravessaram o rock e o blues, absorvendo a energia de Jimi Hendrix, Stevie Ray Vaughan e Eric Clapton. Mas, mais do que replicar estilos, Richey encontrou na guitarra sua própria voz — um timbre denso, cortante, carregado de urgência. Ainda jovem, mudou-se para Cincinnati, onde se estabeleceu e começou a escrever a sua história nos palcos.

Carreira marcada pela intensidade

Seja em estúdio, seja ao vivo, Kelly Richey sempre privilegiou a intensidade. Sua discografia inclui álbuns que exploram tanto composições autorais quanto releituras incendiárias, mas é nos palcos que sua arte atinge o auge. Reconhecida por apresentações explosivas, sua guitarra é o fio condutor de noites que ficam gravadas na memória de quem testemunha. Ela se tornou referência não apenas como guitarrista, mas também como educadora musical, conduzindo workshops, aulas e palestras sobre a linguagem do blues e a expressão artística.

Kelly Richey – Live: 1996-2011

Em 2011, o selo Sweet Lucy Records lançou uma compilação que resume com perfeição a grandeza da guitarrista: Kelly Richey – Live: 1996-2011. O álbum é uma verdadeira cápsula do tempo, reunindo registros de diferentes fases de sua carreira em uma seleção que traduz sua entrega absoluta nos palcos.

A abertura já é arrebatadora: Hey Joe,  Live from the Redmoor, 2011, um registro inédito até então, captura Richey no auge da maturidade musical. Na sequência, os três registros do Live At The Thirsty Ear, 2008 trazem a energia pulsante de uma guitarrista que parecia canalizar cada acorde como se fosse vital. Sua releitura para Crossroad é absurdamente boa. O mesmo acontece com as faixas 5, 6 e 7 retiradas do Kelly Richey Live... As It Should Be, de 2003, que confirmam a intensidade de seu estilo e a comunhão com a plateia.



Retrocedendo mais no tempo, encontramos a crueza das faixas 8, 9 e 10, Live At Tommy's On Main, 1996, uma mostra da jovem Richey ainda em ascensão, mas já pronta para incendiar qualquer palco. Por fim, as faixas extraídas de Kelly Richey Live, 1999 mostram uma artista consolidada, dominando a guitarra com um vigor que impressiona pela combinação de força e sensibilidade.

O álbum não é apenas uma coletânea de performances; é um retrato vivo da evolução de uma guitarrista que nunca se acomodou, sempre empurrando os limites do blues para novas fronteiras.

O legado de uma guitarrista sem concessões

Kelly Richey construiu uma trajetória em que técnica, emoção e autenticidade caminham lado a lado. Sua guitarra não é apenas um instrumento: é uma extensão de sua alma. Com mais de 3.500 shows realizados ao longo da carreira, sua presença de palco é lendária e continua a inspirar novas gerações de músicos e fãs.

No blues, há quem caminhe pelo caminho já trilhado e há quem abra veredas próprias. Kelly Richey pertence ao segundo grupo: uma guitarrista que transformou cada acorde em afirmação de liberdade, cada show em celebração da intensidade. Sua história, marcada por álbuns e turnês, mas também pela relação quase espiritual com a guitarra, é um lembrete de que o blues continua vivo, pulsando e em constante reinvenção.

E quando o volume sobe, quando as notas soam cortantes e incendiárias, a plateia entende: Kelly Richey não apenas toca blues — ela o faz arder.


Tracklist – Kelly Richey: Live 1996-2011

Live from the Redmoor, 2011

  1. Hey Joe – 10:18

Live at The Thirsty Ear, 2008

  1. The Longest Road – 5:38
  2. Is There Any Reason – 9:46
  3. Crossroads – 11:22

Kelly Richey Live... As It Should Be, 2003

  1. Sister’s Gotta Problem – 4:13
  2. City Between the Lines – 3:56
  3. Just a Thing – 4:41

Live at Tommy's On Main, 1996

  1. Brick – 6:36
  2. The Blues Don’t Lie
  3. Mean Old World – 5:29

Kelly Richey Live, 1999

  1. My Baby’s Gone Crazy – 3:24
  2. Talk’s All Over Town – 2:46
  3. Walkin’ By Myself – 7:04

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