Robert Randolph: da Igreja ao Rock — Vida, Arte e o Novo Álbum Preacher Kids

Robert Randolph: da Igreja ao Rock — Vida, Arte e o Novo Álbum Preacher Kids



Nasceu entre as paredes velhas e reverberantes da House of God Church, em Orange, Nova Jersey. Foi ali, em meio a orações e batidas sagradas, que Robert Randolph encontrou o instrumento que mudaria sua vida. A pedal steel guitar, ou “Sacred Steel”, tornou-se sua voz — e, depois, sua travessia para novos mundos sonoros.

A formação de um virtuose

As mãos ainda trêmulas de adolescente descobriram nas cordas sutis da steel o pulso do gospel e a emoção ascendente dos cultos pentecostais. A tradição centenária do Sacred Steel — florescendo desde os anos 1930 entre congregações afro-americanas — moldou seu brilho inicial. Com o tempo, Robert levou aquele som aos palcos seculares, cruzando linhas entre church music, blues, rock e funk com elegância explosiva.

A estrada até Preacher Kids

Depois de anos à frente da Family Band — com indicações ao Grammy, prêmios Emmy e turnês ao lado de lendas como Eric Clapton, Santana e Beyoncé — Randolph embarca em seu primeiro álbum solo: Preacher Kids, lançado em 27 de junho de 2025 pela lendária Sun Records. É, nas palavras do próprio artista, um “momento de completar o círculo”, reunindo raízes gospel com uma sonoridade crua, cheia de alma.

A essência do álbum

Produzido por Shooter Jennings, de pegada country e southern rock, o disco soa como um ritual moderno — gravado de forma espontânea e com alma, muitas vezes nas faixas únicas e quase improvisadas que nasceram no estúdio. O resultado é um blues-rock visceral, carregado de groove, onde cada nota parece respirar vida própria.



Faixas e vozes que ecoam

Big Women — groove insurgente e celebração de poder feminino.
7 Generations — canto ancestral sobre herança e continuidade, embalado por riffs quentes e lembranças de fé.
Gravity e Choir Woman — baladas que deslizam em sensações gospel profundas.
Sinner — blues-rock brutão que lança faíscas sonoras, quase uma exorcização elétrica.
King Karma (com Margo Price) — duet cheio de tensão e beleza, um jogo de aproximação sedutora.
When Will the Love Rain Down (com Judith Hill) — a faixa mais hipnótica e emocional, com reverberações de corais e solos de steel que choram com wah-wah dramático.
Like to Love You Baby — versão jam leve e sincera do clássico de J.J. Cale.
All Night Lover — suor e desejo em forma de canção, som inebriante.
Roosevelt Pool — jam blues ancestral, com voz falada sobre vistas de um hotel, encerrando a jornada com elegância cravada.

Uma tradução poética de raízes e reinvenção

Preacher Kids pulsa com histórias não contadas, ecos espirituais que encontram groove e distorção. Cada faixa parece escrita no calor do momento, capturando uma mistura rara de introspecção e fúria criativa. A pedal steel de Robert dialoga com vozes convidadas, coroando a ancestralidade do gospel e a urgência do blues-rock moderno.

Conclusão: um rito de blues contemporâneo

Robert Randolph desafia tradições e expectativas. Com sua bagagem sagrada nas costas, ele entrega um álbum solo que parece um sermão elevado ao poder da música e do sentimento. Em Preacher Kids, a fé, o desejo e o ritmo convulsivo se encontram em harmonia divina — um convite para ouvir não apenas com os ouvidos, mas com o corpo inteiro.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Marcos Ottaviano And His Blues Band: 35 Anos de Carreira

Ain’t Done With The Blues: Buddy Guy aos 89 Anos Ainda Toca com o Coração em Chamas

Nuno Mindelis: Blues, não só para o Brasil!