Robert Finley: a voz que bendiz a esperança — blues, alma e redenção
Robert Finley: a voz que bendiz a esperança — blues, alma e redenção
Robert Finley nasceu em Bernice, Louisiana, em 1954. Sua história é um cântico tardio, uma vitória da fé e do ofício: um artista que atravessou décadas entre o trabalho de carpinteiro, o serviço militar e os quartetos de igreja até reaparecer com força rara, como se cada músculo da voz carregasse memórias de estrada, suor e altar.
Primeiros passos, pausas e recomeços
Finley comprou a primeira guitarra ainda menino e aprendeu observando os grupos gospel que incendiavam o Sul dos Estados Unidos. No Exército, na década de 1970, acabou se tornando bandleader e guitarrista, rodando a Europa. De volta a casa, conciliou a carpintaria com a música sacra — até que a perda progressiva da visão o afastou dos pregos, mas não das canções. Em 2015, foi redescoberto em uma apresentação de rua e deu-se o reinício: a voz antiga com sede de presente.
Estreia tardia que soa urgente: Age Don’t Mean a Thing (2016)
Gravado em Memphis com integrantes dos The Bo-Keys, o álbum de estreia apresenta um soul fervoroso, cheio de madeira, metal e humanidade. É a certidão de nascimento artística de um veterano: quem chega aos 62 anos e canta como se a juventude fosse um lugar que ainda existe.
A parceria que virou assinatura: Goin’ Platinum! (2017)
Produzido por Dan Auerbach, o segundo disco amplia o espectro: blues, R&B, funk, um pouco de Nashville na madeira e muita eletricidade na garganta. As canções brilham entre metais e grooves de estúdio com a naturalidade de quem conversa marcando o compasso com o pé.
A autobiografia em voz alta: Sharecropper’s Son (2021)
Aqui, Finley abre o baú da memória: a lavoura, as saudades, os tombos, as orações. É um disco de carne viva, produzido novamente por Auerbach, que costura a própria origem do artista em arranjos orgânicos, quentes, com letras que parecem cartas — enviadas do passado para o futuro.
O pântano como catedral: Black Bayou (2023)
Mais sombrio e cinematográfico, o quarto álbum é um retrato da Louisiana em cores saturadas: jacarés, estradas, água escura, fé e sobrevivência. As faixas soam como histórias contadas à beira da fogueira, com um vocal que alterna brasas e mel, falsete e chão. É o disco que consolidou Finley no radar do grande público.
Hallelujah! Don’t Let The Devil Fool Ya (lançamento: 10 de outubro de 2025)
O novo capítulo chega como um sermão dançante: um álbum de espírito gospel gravado com a direção de Dan Auerbach no Easy Eye Sound, em Nashville. As canções avançam no compasso do chamado e resposta, com a filha de Finley, Christy Johnson, nos vocais de apoio. O método segue a marca do cantor: capturar o momento com feeling imediato, deixando o espírito conduzir.
Singles e ecos críticos
- “Helping Hand”: um groove de evangelho com pulsação setentista e linhas vocais magnéticas. Publicações destacaram a vibração psicodélica-funk e a entrega de Finley no microfone.
- “Holy Ghost Party”: festa sagrada e chão de igreja; um convite para celebrar, mãos batendo e coro levantando poeira no templo.
Primeiras reações da imprensa especializada já sublinham a força espiritual do projeto, a produção quente de Auerbach e a performance incendiária de Finley — um trabalho que posiciona o cantor na linha direta entre o blues de raiz e a liturgia do soul.
A estética: entre a terra e o céu
Finley sempre caminhou com um pé no barro e o outro no púlpito. O blues é sua estrada; o gospel, seu norte. No timbre, há cascalho e misericórdia. Nos arranjos, guitarras com cheiro de válvula, bateria que respira sala, órgão que sustenta o teto. É música para o corpo e para a consciência.
Discografia selecionada
- Age Don’t Mean a Thing (2016)
- Goin’ Platinum! (2017)
- Sharecropper’s Son (2021)
- Black Bayou (2023)
- Hallelujah! Don’t Let The Devil Fool Ya (2025)
Produção e colaboradores
O fio que entrelaça a fase recente é a parceria com Dan Auerbach. Gravações ao vivo, arranjos que priorizam a fagulha do primeiro take e músicos com ouvido de rua e precisão de estúdio. No novo álbum, somam-se nomes de confiança em guitarra, teclas e cozinha rítmica — banda enxuta, calor máximo.
Por que Robert Finley importa hoje
Porque ele prova que o tempo é um aliado da arte. A voz ficou mais funda, a história mais densa, o repertório mais verdadeiro. Em Finley, a canção é testemunho: uma mão espalmada que chama para dançar, rezar e lembrar.
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