Percy Mayfield: A poesia e o blues caminhando juntos

Percy Mayfield: A poesia e o blues caminhando juntos



Percy Mayfield não foi apenas um cantor e compositor de blues. Ele foi, acima de tudo, um poeta. Conhecido como o “Poet Laureate of the Blues”, transformou as dores da alma humana em melodias sutis, letras profundas e versos que ressoam até hoje. Nascido em 12 de agosto de 1920, em Minden, Louisiana, Mayfield cedo descobriu que a música era o lugar onde a poesia poderia ganhar asas e se tornar eterna.

Os primeiros acordes e a ascensão

Quando se mudou para Los Angeles em 1942, levava na bagagem não só seus poemas, mas também uma forma de cantar que fugia do blues cru e direto. Era uma voz suave, quase de crooner, que encontrou nas baladas românticas e nas canções introspectivas o terreno ideal. Em 1947, lançou Two Years of Torture, seu primeiro grande sucesso, abrindo caminho para o contrato com a Specialty Records em 1950. Foi nesse período que veio a consagração com “Please Send Me Someone to Love”, música que dominou as paradas de R&B e se tornou um clássico imortal.

O acidente que mudou tudo

Mas a trajetória de Mayfield não seria feita apenas de glórias. Em 1952, um acidente de carro deixou seu rosto desfigurado, encerrando de forma abrupta a carreira de performer. A voz doce e a presença de palco cederam espaço à caneta e ao papel. Se não podia mais encantar com sua figura, Percy se reinventou como compositor, escrevendo para outros artistas e dando forma a algumas das canções mais marcantes do soul e do blues urbano.

A parceria com Ray Charles e os grandes sucessos

Foi nessa fase que sua vida se cruzou com a de Ray Charles. Em 1961, Charles gravou Hit the Road Jack, composição de Mayfield que alcançou o topo das paradas e venceu o Grammy. A parceria rendeu ainda músicas como Hide nor Hair, Danger Zone e At the Club, consolidando Percy como um dos mais importantes letristas da música americana.

Enquanto isso, ele também seguia gravando. Em 1966, pela Chess Records, lançou o álbum My Jug and I, uma obra sofisticada que reuniu blues, soul e poesia em doses perfeitas. Nele, a maturidade artística de Mayfield ficou evidente, mostrando um artista pleno, que transformava cada verso em um mergulho profundo na condição humana.



O poeta reencontrando os palcos

Nos anos 80, após ser redescoberto por músicos e produtores da cena californiana, Mayfield voltou aos palcos. Gravou novos discos, participou de shows e levou ao vivo a poesia que por tanto tempo havia habitado apenas os sulcos dos vinis. Mesmo sem a mesma visibilidade dos anos 50 e 60, a essência de sua arte permanecia intacta: uma escrita carregada de humanidade, tristeza e beleza.

O adeus e o legado

Percy Mayfield faleceu em 11 de agosto de 1984, um dia antes de completar 64 anos. Deixou para trás não apenas canções, mas um estilo único de narrar a vida através do blues. De Please Send Me Someone to Love a My Jug and I, cada obra traz a marca de um homem que fez da poesia sua forma de existir.

Hoje, quando suas músicas ecoam, percebemos que o título de “Poet Laureate of the Blues” não foi apenas um elogio, mas um reconhecimento de que Percy Mayfield soube transformar dor em arte, e a arte em eternidade.

Discografia em destaque

  • Please Send Me Someone to Love (1950)
  • My Jug and I (1966, Chess Records)
  • Sings Percy Mayfield (1970)

Curiosidades

  • Ray Charles gravou várias de suas composições, incluindo o icônico Hit the Road Jack.
  • Foi chamado de “Poet Laureate of the Blues” por seu estilo lírico e introspectivo.
  • Teve uma carreira dividida entre a interpretação vocal e a escrita refinada para outros 

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