McKinley James: O Blues do Novo Mundo com Alma Antiga

McKinley James: O Blues do Novo Mundo com Alma Antiga



Há algo de eterno quando um jovem decide mergulhar de corpo e alma no blues. É como se as notas da guitarra atravessassem as décadas, trazendo consigo a poeira dos porões de Chicago e o suor das noites em Memphis. McKinley James é um desses espíritos raros. Um jovem com feições clássicas, mãos calejadas pela estrada e um som que carrega o passado com a urgência do presente.

De Nova York a Nashville: a estrada começa cedo

Natural de Webster, no estado de Nova York, McKinley nasceu cercado por instrumentos, vinis e uma herança musical que pulsa forte. O sangue azul do blues corre em suas veias por meio do pai, Jason Smay, baterista de mão cheia que já integrou bandas como JD McPherson e Los Straitjackets. Aos treze anos, McKinley já tocava órgão em clubes de jazz, mas bastou um encontro com os riffs de Steve Cropper e a energia crua de Link Wray para a guitarra se tornar seu altar definitivo.

Em 2016, a família fez as malas e partiu para Nashville, onde McKinley começaria a forjar seu próprio caminho. Não como um garoto prodígio montado em promessas, mas como um artista de ofício, daqueles que suam cada nota e constroem cada compasso com verdade.

O som que pulsa: groove, suor e essência

O blues de McKinley James não se esconde atrás de virtuosismo. Ele busca a simplicidade com a mesma intensidade com que outros perseguem aplausos. É groove, é alma, é coração batendo em contratempo. Sua música é um híbrido ardente de R&B, soul vintage e blues de garagem, com uma pegada minimalista que resgata a essência dos grandes: Magic Sam, Eddie Taylor, Jimmy Reed e Lightnin’ Hopkins.

Seus shows, muitas vezes em duo com o pai na bateria, dispensam o baixo e outras firulas. A proposta é direta: guitarra e tambor, suor e verdade. E quando se ouve faixas como “Always on My Mind” ou “Leadin’ Me On”, do álbum “Working Class Blues”, lançado em 2024, não há como negar — o garoto tem alma antiga e nervo moderno.



Working Class Blues: o retrato de um operário do som

Gravado ao vivo em apenas três dias no celeiro da família, “Working Class Blues” é mais que um disco — é um manifesto. Usando uma Stratocaster de 1954 e uma bateria Ludwig dos anos 70, McKinley e Jason registraram onze faixas que são como cartas escritas com sangue e groove.

O álbum é cru, direto e sincero. Faixas como “Movin’”, “Crazy Over You” e “Call Me Lonesome” mostram um compositor maduro, mesmo tão jovem. Os temas giram em torno do amor, do desencontro, da estrada e de um certo cansaço existencial que apenas os bluesmen de alma conhecem. As resenhas não pouparam elogios: autenticidade, elegância e um frescor raro no blues atual.

O novo passo: Just Left My Baby’s

Agora, em 2025, McKinley James retorna com o single “Just Left My Baby’s”, uma nova demonstração de que sua jornada segue firme e pulsante. A faixa foi lançada com um vídeo ao vivo gravado no estúdio Carter Vintage Guitars, e traz tudo aquilo que se espera dele: riffs quentes, groove contagiante e uma entrega vocal que beira o confessionário.



O single antecipa, talvez, um novo trabalho, mas o artista não tem pressa. McKinley parece saber que o blues não se apressa — ele chega quando precisa. E assim, com cada nota suada, ele escreve sua história com a dignidade de quem honra o passado, mas não teme o futuro.

Presente de alma, futuro promissor

Com menos de trinta anos e já dono de uma discografia sólida e cativante, McKinley James caminha entre os gigantes com humildade e talento. Seja nos clubes pequenos ou nos festivais como o Rochester International Jazz Festival, onde se apresentou em 2025, sua presença é magnética e sua música é pura.

Se o blues é a arte de contar verdades com notas e silêncios, McKinley James já é mestre. Seu som não é uma homenagem — é uma continuação viva, quente e necessária daquilo que começou nas margens do Mississippi, cruzou o asfalto de Chicago e agora ressoa nos amplificadores de Nashville.

McKinley James não quer reinventar o blues. Ele quer vivê-lo. E isso já basta.


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