Mainsqueeze – Live at Ronnie Scott’s 1983: um marco do blues britânico
Mainsqueeze – Live at Ronnie Scott’s 1983: um marco do blues britânico
O blues britânico teve muitos capítulos marcantes ao longo das décadas, mas poucos tão simbólicos e vibrantes quanto o show registrado no álbum “Live at Ronnie Scott’s 1983” da banda Mainsqueeze. Mais do que uma performance ao vivo, esse disco é um verdadeiro ponto de encontro entre lendas do blues inglês e uma reverência à poderosa jam que foi a Sweet Pain Session, em 1969.
O legado da Sweet Pain Session
No final da década de 1960, Londres fervilhava em uma mistura de rock psicodélico, jazz e blues elétrico. Foi nesse caldeirão criativo que nasceu a Sweet Pain Session, uma reunião informal porém histórica de músicos que viriam a moldar o som do blues britânico.
Essa sessão de 1969 contou com figuras como Dick Heckstall-Smith, John O’Leary, Victor Brox e Keith Tillman — todos nomes ligados a grandes bandas da época como John Mayall’s Bluesbreakers, Graham Bond Organisation, Colosseum, Savoy Brown e Aynsley Dunbar Retaliation. Foi um encontro carregado de energia, espontaneidade e virtuosismo, marcado por longos improvisos e groove de raiz. Apesar de pouco documentada, a Sweet Pain se tornou uma referência cult entre os apreciadores do blues europeu.
O renascimento com o Mainsqueeze
Mais de uma década depois, em 1983, esse núcleo original se reuniu novamente — agora sob o nome Mainsqueeze. O objetivo era claro: criar uma grande celebração do blues e do rhythm & blues com uma pegada intensa, quase orquestral. Eles formaram uma espécie de “revue” à moda antiga, com múltiplos músicos, sopros, vocais e até dançarinas no palco.
O grupo incluiu músicos experientes e talentosos, com carreiras já consagradas:
- Eric Bell (Them, Thin Lizzy) – vocais e guitarra
- Victor Brox – vocais e trompete
- Dick Heckstall-Smith – saxofones tenor, alto e soprano
- Dave Munch Moore – Fender Rhodes, clavinet, Moog, órgão Roland
- John O’Leary – gaita e congas
- Keith Tillman – baixo Fender
- Stretch – bateria e percussão
- Diana Wood – vocais e sax alto
- Rod Coombes – percussão
- Miranda Hampton, Noelle Houghton e Clare Jenkins – dançarinas
Em um momento em que o mercado era dominado por pós-punk, disco music e synthpop, o Mainsqueeze teve a ousadia de apostar no blues visceral, com arranjos robustos e performances intensas. A energia contagiante das apresentações conquistou palcos por toda a Europa, especialmente entre os fãs mais fiéis do gênero.
Live at Ronnie Scott’s – 15 de janeiro de 1983
O show registrado no lendário clube Ronnie Scott’s, em Londres, é uma cápsula do tempo. Gravado ao vivo em 15 de janeiro de 1983, ele reúne uma seleção de clássicos do blues e composições próprias, com arranjos cheios de personalidade, sopros marcantes e grooves intensos.
Faixas do álbum:
- Voodoo Man
- Frosty
- You Can Have My Husband
- Born In Chicago
- Itch
- Casting My Spell
- Framed
- Sweet Sixteen
- Creeper
- Rock Me Baby
- Hip Shake
Há espaço para o swing, para o boogie, para os clássicos de B.B. King e para um blues rasgado de Chicago. Os vocais se alternam entre Victor Brox e Eric Bell, enquanto a cozinha mantém o groove com precisão impecável. As improvisações de Dick Heckstall-Smith nos saxofones e a gaita de John O’Leary são pura alma e fogo.
Uma peça histórica do blues europeu
“Live at Ronnie Scott’s 1983” é mais que um disco: é um documento histórico de um reencontro musical entre figuras centrais do blues britânico. Ele retoma a energia da Sweet Pain Session, homenageia as raízes do gênero e mostra que o blues, mesmo em tempos difíceis, nunca deixou de pulsar nas veias de seus devotos.
Para os amantes do blues tradicional, para os curiosos por tesouros escondidos da cena inglesa ou simplesmente para quem gosta de boa música tocada com paixão e entrega, este álbum é um prato cheio.
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