Eric Bibb: a voz da tradição que ecoa no presente
Eric Bibb: a voz da tradição que ecoa no presente
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Foto: Jan Malström |
As raízes e o caminho
Eric Charles Bibb nasceu em 16 de agosto de 1951. Aos sete anos, recebeu sua primeira guitarra de cordas de aço, presente que se tornaria uma extensão de sua alma. Quando adolescente, conviveu com nomes como Pete Seeger e Bob Dylan — este último, inclusive, lhe deu um conselho que moldaria seu estilo: “mantenha simples”. Desde então, Bibb seguiu por um caminho em que o virtuosismo técnico nunca ofuscou a mensagem. Sua música não é feita para impressionar, mas para tocar.
Na juventude, integrou a banda do programa televisivo de seu pai e, aos 19, mudou-se para a França, onde conheceu Mickey Baker, mestre da guitarra de blues. Mais tarde, na Suécia, mergulhou nas sonoridades do blues pré-guerra e na world music, criando um estilo único: clássico e contemporâneo, espiritual e terreno.
A carreira e a mensagem
Bibb construiu uma discografia extensa, com dezenas de álbuns que transitam entre o blues, o gospel e o folk. Ao longo dos anos, colaborou com Mavis Staples, Taj Mahal, Pops Staples e Odetta, consolidando-se como um verdadeiro elo entre gerações. Mas o que marca sua obra não é apenas a excelência musical: é a mensagem. Eric Bibb fala de amor, justiça, espiritualidade e resistência, sempre com um tom de serenidade que convida à reflexão.
“In The Real World”: um retrato do presente
Em 2024, Eric Bibb lançou aquele que muitos críticos consideram um de seus trabalhos mais inspirados: In The Real World. Gravado nos lendários estúdios Real World, de Peter Gabriel, o álbum traz 15 faixas que equilibram intimidade e grandiosidade. Do violão minimalista ao coro gospel, das narrativas pessoais às denúncias sociais, Bibb mostra que sua arte continua urgente.
A abertura com “Take the Stage” já define o tom: voz suave, violão delicado e um chamado à escuta atenta. Em “Everybody’s Got a Right”, a mensagem de igualdade ressoa com o apoio de backing vocals gospel. “Stealin’ Home” emociona pela sutileza, enquanto “King of the Castle” expõe a dura realidade da vida nas ruas. E há ainda “Dear Mavis”, tributo emocionante a Mavis Staples, e “Victory Voices”, encerramento esperançoso em dueto com Lily James.
O olhar da crítica
A recepção da crítica ao disco foi calorosa e unânime em reconhecer a força da obra. A Rock & Blues Muse destacou o álbum como “um bálsamo para a alma, entregue por um dos verdadeiros mestres do roots music”. A Glide Magazine foi além, chamando Bibb de “um griot moderno”, ressaltando sua habilidade em tratar de temas sociais e políticos sem perder a ternura. Já a Blues Rock Review apontou faixas como “Take the Stage”, “King of the Castle” e “The Real World” como pontos altos de um trabalho coeso e refinado. Para o site At The Barrier, trata-se de um álbum “sincero e reflexivo”, enquanto o Americana UK avaliou como um autorretrato musical de grande relevância, mesmo após décadas de carreira.
Um legado em movimento
Eric Bibb é mais do que um músico; é um contador de histórias, um mensageiro do tempo. Sua voz não grita, mas ecoa. Suas canções não buscam espetáculo, mas verdade. Com In The Real World, ele reafirma sua condição de ponte entre o passado e o futuro do blues, lembrando que a tradição não é um peso, mas uma chama que precisa ser alimentada.
No real world de Eric Bibb, a música continua sendo um ato de fé, resistência e esperança. E talvez seja por isso que, ao ouvi-lo, sentimos que ainda há espaço para a beleza, para a justiça e para a ternura no coração do blues.
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