Pappo’s Blues: A História do Guitarrista que Transformou o Blues-Rock na América Latina

Pappo’s Blues: A História do Guitarrista que Transformou o Blues-Rock na América Latina




Poucos músicos na história conseguiram carregar o peso de um apelido como Pappo. Na Argentina, ele foi simplesmente “El Carpo”, uma espécie de herói do blues-rock, um guitarrista que não apenas tocava com alma, mas que também vivia cada nota que tirava de sua guitarra. Norberto Aníbal Napolitano, nascido em 10 de março de 1950, construiu uma trajetória que ultrapassou as barreiras do tempo e das fronteiras geográficas, estabelecendo-se como um dos maiores ícones do rock latino-americano. Sua obra atravessou décadas, influenciou gerações e permaneceu fiel ao estilo que sempre amou: o blues. Porém, ao longo de sua carreira, Pappo também flertou com o hard rock, o heavy metal e com sons mais pesados, criando uma discografia que reflete sua versatilidade e, acima de tudo, sua autenticidade. Neste artigo, vamos mergulhar na vida e na obra de Pappo, com foco especial no projeto que melhor sintetiza sua alma musical: o lendário Pappo’s Blues, com destaque absoluto para o marcante álbum Pappo’s Blues Volumen 2, uma das maiores obras do blues-rock argentino de todos os tempos.

As Raízes do Carpo: O Início de Tudo


Desde cedo, Pappo demonstrava aptidão para a música. Ainda adolescente, já circulava entre músicos veteranos da cena portenha, mergulhando no blues e no rock que chegavam da Inglaterra e dos Estados Unidos. Nos anos 60, integrou bandas importantes para a formação do rock argentino, como Los Abuelos de la Nada e Los Gatos. Nessas experiências, Pappo começou a moldar seu estilo, absorvendo influências de guitarristas como Jimi Hendrix, Eric Clapton e B.B. King.Entretanto, seu espírito rebelde e inquieto o levou a buscar algo mais visceral e autêntico. Ele queria uma banda que fosse a extensão de sua alma, algo que lhe permitisse tocar com liberdade total, sem concessões comerciais. Foi assim que nasceu o Pappo’s Blues, em 1971.

Pappo’s Blues: Um Power Trio que Fez História


O Pappo’s Blues surgiu com a ideia de ser um power trio, no melhor estilo Cream ou The Jimi Hendrix Experience. Ao lado de músicos como David Lebón (baixo) e Black Amaya (bateria), Pappo colocou na rua o primeiro disco da banda, um álbum cru, pesado e denso, que trazia músicas como “El Hombre Suburbano” e “El Viejo”. O sucesso foi imediato. A banda caiu nas graças do público jovem, que buscava um som mais sujo e intenso. A guitarra distorcida de Pappo, combinada com seu vocal rouco e suas letras diretas, formaram a base para um novo capítulo na história do blues-rock sul-americano. Nos anos seguintes, o grupo se consolidou como um dos pilares do rock argentino. Pappo, sempre inquieto, trocava os integrantes frequentemente, mas mantinha a essência da banda intacta. Entre 1971 e 1974, a banda lançou quatro álbuns históricos, cada um com características únicas, mas sempre com o blues como fio condutor.

Destaque Máximo: Pappo’s Blues Volumen 2


O segundo álbum da banda, Pappo’s Blues Volumen 2, lançado em novembro de 1972, é considerado até hoje o grande ápice criativo de Pappo. Gravado com Carlos Pignatta no baixo e Luis Gambolini na bateria, o disco consolidou o status de Pappo como um dos maiores guitarristas do continente. Logo na abertura, “El Tren de las 16” já mostra a que veio. Com um riff marcante e uma batida hipnótica, a música se tornou um verdadeiro hino do rock argentino, atravessando gerações e sendo lembrada como uma das maiores canções do país. Outro destaque absoluto do álbum é “Desconfío”, um blues melancólico e intimista que Pappo compôs ao piano, mostrando sua versatilidade. A canção é um verdadeiro retrato da solidão, com versos confessionais e um solo de guitarra carregado de emoção. “Desconfío” é, sem dúvida, uma das músicas mais emblemáticas de sua carreira, sendo reverenciada como um clássico absoluto do blues argentino. O álbum ainda traz faixas como “Llegará la Paz”, “Blues de Santa Fe” e “Pobre Juan”, que transitam entre o blues tradicional e o hard rock, sempre com a guitarra em primeiro plano. As letras abordam temas como a rotina, a angústia e a busca pela liberdade, traçando um retrato autêntico da juventude argentina da época. Com apenas oito faixas e pouco mais de 30 minutos de duração, Pappo’s Blues Volumen 2 é um disco direto, sem firulas, que conquista justamente pela sua simplicidade e pelo peso emocional das interpretações. Não à toa, o álbum é constantemente citado como um dos melhores da história do rock argentino.




Outros Projetos e Aventuras Musicais

Embora o Pappo’s Blues tenha sido seu projeto mais marcante, Pappo não se limitou a ele. Em 1977, ele surpreendeu ao formar o Aeroblus, ao lado de Alejandro Medina e do baterista brasileiro Rolando Castello Júnior. O trio gravou um único disco, mas que se tornou cultuado entre os fãs de rock pesado e hard rock. Com um som mais agressivo, o Aeroblus representou uma nova faceta de Pappo, que mostrava ali sua habilidade para o riff pesado e o improviso furioso. No início dos anos 80, Pappo fundou o Riff, banda que mergulhou de vez no heavy metal. Com o Riff, ele consolidou seu status de precursor do metal argentino, lançando discos que marcaram época, como “Ruedas de Metal” e “Macadam 3210”. O Riff trouxe uma atitude mais crua e direta, com letras que abordavam temas urbanos e sociais, sempre embaladas por guitarras afiadas. Além desses projetos, Pappo também gravou discos solo, nos quais pôde explorar o blues de maneira ainda mais profunda. Trabalhos como “Blues Local” e “Buscando un Amor” mostram um Pappo mais maduro, mas com a mesma paixão de sempre pela música de raiz. Aqui no Brasil juntou-se mais uma vez a Rolando Castello Júnior para gravar o clássico Patrulha 85.

O Estilo Inconfundível de Pappo


O que tornava Pappo tão especial era justamente sua autenticidade. Ele não se preocupava com modismos ou com o mercado. Seu compromisso era com a música, e sua guitarra era sua voz principal. Seus solos eram intensos, cheios de sentimento, e seus riffs tinham uma força quase primitiva, que atingia o ouvinte em cheio. Pappo sabia exatamente quando acelerar e quando deixar a melodia fluir, sempre com um domínio absoluto do instrumento. Além disso, sua voz rouca e suas letras simples, porém impactantes, davam às suas músicas um ar ainda mais genuíno. Pappo cantava o que vivia e vivia o que cantava.

O Legado Imortal de Pappo’s Blues


Mesmo após sua morte trágica em 2005, Pappo segue como uma referência obrigatória para qualquer amante do blues e do rock em espanhol. Sua discografia é um verdadeiro tesouro para quem busca autenticidade, energia e emoção. O Pappo’s Blues, em especial, permanece como o ponto alto dessa trajetória. O projeto não foi apenas uma banda, mas sim uma filosofia de vida, que pregava a liberdade, a simplicidade e a honestidade musical. Álbuns como o Volumen 2 seguem sendo revisitados, celebrados e redescobertos por novas gerações, que encontram nas canções de Pappo um refúgio para a alma e uma explosão de sentimentos.

Discografia Essencial de Pappo’s Blues


Pappo’s Blues Volumen 1 (1971)

Pappo’s Blues Volumen 2 (1972)

Pappo’s Blues Volumen 3 (1973)

Pappo’s Blues Volumen 4 (1973)

Triángulo (1974)

Pappo’s Blues Volumen 6 (1987)

Pappo’s Blues Volumen 7 (1992)

Caso Cerrado (1995)

Conclusão

A trajetória de Pappo é a história de um homem que dedicou sua vida ao blues, sem abrir mão de suas convicções e sem jamais se curvar às regras da indústria. Com sua guitarra nas mãos, ele escreveu capítulos inesquecíveis do rock argentino, sempre com autenticidade e paixão. O Pappo’s Blues Volumen 2 é a síntese perfeita desse legado: um disco que emociona, que pulsa, que inspira. É o retrato fiel de um artista que fez do blues sua casa e que, mesmo após sua partida, continua iluminando o caminho de todos aqueles que buscam a verdade na música. Se há uma lição que Pappo deixou, é que o blues não se toca apenas com as mãos — ele se toca com o coração.


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