Devon Allman: o legado em movimento e o brilho colaborativo de “The Blues Summit”
Devon Allman: o legado em movimento e o brilho colaborativo de “The Blues Summit”
![]() |
Foto: Kaelan Barowsky |
Filho do lendário Gregg Allman, mas dono de uma identidade musical própria, Devon Allman percorreu um longo e sinuoso caminho até consolidar seu nome no blues rock contemporâneo. Com uma trajetória que equilibra herança, reinvenção e ousadia artística, ele se tornou um dos principais embaixadores do blues moderno. E, como se quisesse celebrar essa jornada de encontros e descobertas, Devon acaba de lançar um dos discos mais ambiciosos e relevantes de sua carreira: “The Blues Summit”.
O peso do sobrenome, a busca por um som próprio
Devon nasceu em 10 de agosto de 1972, em Corpus Christi, no Texas, mas foi criado longe dos palcos e holofotes do pai. Teve um primeiro contato mais próximo com Gregg Allman apenas na adolescência, o que, de certo modo, moldou sua postura musical: uma constante busca por identidade artística própria, ainda que sob a sombra inevitável do sobrenome Allman.
Antes mesmo de lançar discos solo, Devon experimentou caminhos diversos, como a fundação da banda Honeytribe em 1999. Com ela, lançou dois álbuns que transitavam entre o blues, o rock clássico e o funk, demonstrando sua versatilidade e vocação para a estrada. Mais tarde, integrou a poderosa Royal Southern Brotherhood, supergrupo ao lado de nomes como Cyril Neville e Mike Zito, onde sua guitarra se entrelaçava com raízes do sul dos EUA e grooves carregados de alma.
Uma discografia de alma expansiva
Em 2013, lançou seu primeiro álbum solo, “Turquoise”, um trabalho mais intimista e repleto de climas viajantes. Depois viriam “Ragged & Dirty” (2014) e “Ride or Die” (2016), este último alcançando o topo das paradas de blues da Billboard. Devon já não era apenas “o filho de Gregg”: havia se tornado um artista completo, capaz de fundir tradições e modernidade com naturalidade.
Ao longo da década de 2010 e início de 2020, Devon ainda formaria com Duane Betts a Allman Betts Band, grupo que reverenciava a memória dos Allman Brothers sem se limitar ao saudosismo. O som era potente, atual e repleto de emoção. A banda lançou dois álbuns e se tornou presença marcante em festivais mundo afora.
O ponto alto: The Blues Summit (2025)
Lançado esta semana, o álbum “The Blues Summit” é uma celebração de tudo que Devon construiu – e mais. Trata-se de um disco colaborativo, um encontro de gerações e estilos dentro do universo do blues, com participações de nomes como Christone “Kingfish” Ingram, Jimmy Hall, Larry McCray, Robert Randolph, Sierra Green e a lendária seção de metais Memphis Horns.
Gravado com produção refinada e clima orgânico, o disco mistura faixas autorais, regravações e colaborações intensas. Em faixas como “Runners in the Night” e “Hands and Knees”, Allman demonstra seu talento como agregador de vozes, cedendo espaço e luz aos convidados, sem jamais perder sua assinatura emocional.
Resenhas e recepção
A crítica especializada reconheceu o disco como um divisor de águas na carreira de Devon Allman. A revista americana Glide Magazine destacou o álbum como uma “reunião inspiradora de veteranos e novatos do blues”, ressaltando a sinergia entre os músicos e o alto nível de produção. Já o site Rock and Blues Muse apontou que “The Blues Summit” é o projeto mais centrado no blues que Devon já realizou, chamando atenção para a generosidade com que o artista compartilha o protagonismo.
Algumas faixas como “Wang Dang Doodle” (cover de Willie Dixon) e “Little Wing” (de Hendrix) dividiram opiniões. Enquanto críticos como os do Paris-Move elogiaram os arranjos e a execução, outros questionaram se tais escolhas não tirariam um pouco do frescor do repertório. Ainda assim, o saldo geral foi amplamente positivo: o álbum foi chamado de “sucesso franco e consistente do começo ao fim”.
Faixas de “The Blues Summit”
- Runners in the Night (feat. Kingfish)
- Blues Is a Feelin’
- Peace to the World (feat. Robert Randolph)
- Real Love
- After You
- Gettin’ Greasy With It
- Wang Dang Doodle
- Hands & Knees
- Little Wing
- Midnight Lake Erie
Devon Allman Project: o artista como elo
Além de seu trabalho solo e em bandas, Devon comanda o Devon Allman Project, que não é apenas um grupo, mas uma plataforma para turnês colaborativas, celebrações da história do blues e encontros entre gerações. Com ele, já percorreu o mundo, passando por festivais, teatros históricos e clubes intimistas, sempre com a proposta de criar conexões – musicais e emocionais.
Em meio a essa trajetória multifacetada, Devon se firmou como um dos mais importantes herdeiros do blues norte-americano. Não apenas por seu nome, mas por sua entrega, autenticidade e visão de futuro.
Um futuro com raízes
Ao lançar “The Blues Summit”, Devon Allman não apenas reafirma sua relevância, mas também lança luz sobre o que o blues pode ser no presente: colaborativo, plural, vivo e generoso. Seu talento está em criar pontes, reverenciar os mestres e ao mesmo tempo convidar novos nomes a entrarem no palco.
Se há um bluesman que entende que a alma do gênero está no sentimento e na comunhão, esse alguém é Devon Allman. E, ao que tudo indica, seu caminho está longe de terminar. Como ele mesmo canta, “blues is a feelin’” – e o dele, definitivamente, é verdadeiro.
Comentários
Postar um comentário