Big Dave & The Dutchmen: o espírito vivo do Chicago blues na Europa

Big Dave & The Dutchmen: o espírito vivo do Chicago blues na Europa



Uma banda que soa como se tivesse saído diretamente das noites quentes de Chicago nos anos 50, mas que, na verdade, nasceu entre a Bélgica e a Holanda em pleno século XXI. Assim é Big Dave & The Dutchmen, um grupo que chegou para renovar o fôlego do blues clássico sem abrir mão da autenticidade, da alma e da reverência aos grandes mestres do gênero.

Uma alma belga com raízes americanas

O frontman Big Dave Reniers é um velho conhecido da cena europeia. Com passagens marcantes por bandas como The Electric Kings e Dizzy Dave Band, ele construiu sua reputação como um dos maiores gaitistas e vocalistas de blues do continente. Em 2023, uniu forças com alguns dos músicos mais respeitados dos Países Baixos para formar uma verdadeira super banda: Mischa den Haring (guitarra), Roel Spanjers (piano e órgão), Dusty Ciggaar (baixo e guitarra) e Darryl Ciggaar (bateria). Cada um com uma bagagem rica e diversa, mas todos sintonizados na mesma frequência: o blues com alma, suor e paixão.

Estreia poderosa com um pé no passado e o outro no presente

O primeiro álbum da banda, lançado em abril, carrega simplesmente o nome do grupo: Big Dave & The Dutchmen. Gravado em apenas dois dias no estúdio Rabbit Field em Antuérpia, o disco transborda espontaneidade e energia, como se cada faixa tivesse sido capturada ao vivo, em um só take. E essa sensação não é por acaso. Segundo diversas resenhas especializadas, o disco possui uma sonoridade crua, orgânica, cheia de nuances e variações, e com uma pegada vintage que não soa datada.

Críticos europeus de veículos como Bluestown Music, Written in Music e La Hora del Blues destacaram o disco como uma das mais bem-sucedidas tentativas recentes de revitalizar o Chicago blues tradicional, sem cair na repetição ou no pastiche. A combinação de timbres vintage com composições originais e arranjos inventivos resultou em um trabalho que respeita o passado e mira no futuro.

Um repertório autoral com sabor de clássico

O álbum é composto majoritariamente por faixas inéditas, com exceção de uma versão de Screwdriver, de Billy Bizor, e uma adaptação ousada da tradicional Trouble of the World. Entre os destaques, estão:

  • Never Love Again – faixa de abertura intensa, com vocais rasgados e gaita incisiva;
  • Screwdriver – groove contagiante e interpretação afiada;
  • Daring Haring – instrumental explosivo e divertido;
  • This Work – combinação impecável de piano, órgão e emoção gospel;
  • Lonesome – melodia melancólica e arranjo refinado que impressionou a crítica;
  • So Sweet – faixa suave e sedutora, com guitarra brilhante no encerramento;
  • Blues Jumps In – fechamento em clima dançante, com o espírito do boogie dos anos 40.

Segundo a Blues Blast Magazine, trata-se de um trabalho que combina “vocais viscerais, gaita suja, piano dançante e uma banda perfeitamente entrosada”.



Raízes profundas, pegada moderna

O som do grupo remete diretamente à era de ouro do blues urbano, mas sem parecer enclausurado no tempo. Há um frescor nas execuções, uma naturalidade nos arranjos e uma alegria evidente em cada solo, cada batida, cada harmônica. Big Dave canta como se tivesse vivido cada letra na pele, enquanto seus parceiros instrumentistas criam um tapete sonoro rico em textura, groove e balanço.

Críticas como a do site Written in Music destacam que, mesmo soando como um disco gravado em 1962, há um senso moderno de composição e construção narrativa em cada faixa. É o tipo de álbum que agrada tanto puristas quanto novos ouvintes.

Palco e presença: blues de verdade se vive ao vivo

A energia contagiante de Big Dave & The Dutchmen também tem sido confirmada nos palcos. A banda se apresentou em importantes festivais como o Moulin Blues na Holanda, arrancando aplausos calorosos com performances incendiárias. No palco, o grupo mostra que não se trata apenas de técnica e repertório: há entrega, carisma, conexão com o público.

Conclusão: um futuro promissor com alma antiga

Big Dave & The Dutchmen chegaram para ficar. Seu álbum de estreia já figura entre os grandes lançamentos de blues de 2025, e tudo indica que o grupo seguirá surpreendendo com mais material autoral e apresentações marcantes. Num tempo em que o blues vive em muitas formas, este quinteto europeu prova que o som das raízes ainda pulsa forte — basta saber ouvi-lo com o coração aberto e os ouvidos atentos.

Para quem ama o blues de corpo e alma, este disco é obrigatório.


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