Big Bill Morganfield: O Filho de Muddy Waters
Big Bill Morganfield: O Filho de Muddy Waters
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Foto: Bengt Nyman |
Já falamos aqui no Todo Dia Um Blues sobre Mud Morganfield, o primogênito de Muddy Waters, que carrega com orgulho a herança de seu pai. Hoje, mergulhamos na trajetória de seu meio-irmão, Big Bill Morganfield, outro herdeiro direto do trono do blues de Chicago, que construiu uma carreira marcada pelo respeito às raízes, mas também pelo desejo de trilhar um caminho próprio.
O Início de uma História Bluesy
William Morganfield nasceu em 19 de junho de 1956, em Chicago, Illinois. No entanto, sua história não começou exatamente nos palcos ou estúdios. Criado pela avó materna na Flórida, Bill cresceu longe do glamour e do peso do sobrenome Waters. Sem convívio regular com seu pai, sua infância foi marcada mais pela educação formal do que pela música.
Ele se formou em inglês pela Tuskegee University e, posteriormente, em comunicação pela Auburn University. Antes de empunhar a guitarra, trabalhou como professor, um ofício que exigia disciplina e estudo — características que mais tarde seriam essenciais em sua jornada no blues.
Um Chamado Irrecusável: O Blues no Sangue
O ponto de virada ocorreu em 1983, ano da morte de Muddy Waters. O luto despertou algo profundo em Bill, que passou a se dedicar com afinco ao estudo da guitarra slide e do blues tradicional. Durante seis anos, mergulhou na música, absorvendo tudo o que podia do legado de seu pai e de outros mestres do gênero.
O início profissional aconteceu na segunda metade dos anos 1990, quando começou a se apresentar com sua banda, The Stone Cold Blues Band. Logo, seus shows em clubes renomados, como o Blue Angel Café, e em festivais como o Montreal Jazz Festival, chamaram a atenção da crítica e dos fãs.
Primeiros Discos e o Reconhecimento
Em 1999, Big Bill lançou seu álbum de estreia, Rising Son, pelo selo Blind Pig Records. O disco, com participações de músicos veteranos do blues de Chicago, foi um sucesso imediato e rendeu a Bill o W.C. Handy Award de Melhor Novo Artista de Blues em 2000. A crítica foi unânime em reconhecer seu talento, ressaltando que ele não era apenas "filho de Muddy Waters", mas um músico com voz e estilo próprios.
Dois anos depois, em 2001, lançou Ramblin' Mind, um álbum ainda mais robusto, com participações de Taj Mahal, Pinetop Perkins e Billy Branch. A obra mostrou um Bill mais maduro, explorando o blues urbano com energia e elegância.
A Caminhada Solo e o Blues Autoral
Ao longo dos anos 2000, Big Bill Morganfield consolidou sua carreira com álbuns como Blues in the Blood (2003) e Born Lover (2009), este último co-produzido por Bob Margolin, ex-guitarrista de Muddy Waters. Em Born Lover, Bill aprofundou-se em composições autorais, mostrando versatilidade e uma abordagem mais contemporânea.
Em 2013, lançou Blues With a Mood, disco que alcançou o topo das paradas da revista Living Blues e garantiu o prêmio Jus’ Blues Award como Melhor Artista Contemporâneo de Blues.
Bloodstains on the Wall: Uma Obra Madura e Intensa
Em 2016, Big Bill Morganfield lançou aquele que é, para muitos, seu álbum mais marcante: Bloodstains on the Wall. Com 12 faixas, o disco mistura swing, boogie e o tradicional blues de Chicago, sempre com muito slide e riffs certeiros.
Tracklist de Bloodstains on the Wall:
- Lost Without Love
- I Don’t Know Why
- When You Lose Someone You Love
- Too Much
- Help Someone
- Bloodstains on the Wall
- Can’t Call Her Name
- Wake Up Baby
- Keep on Loving Me
- I Am the Blues
- Help the Bear
- Hold Me Baby
O álbum recebeu críticas bastante favoráveis. Especialistas destacaram o equilíbrio entre a tradição e a inovação. A faixa-título, por exemplo, traz uma crueza que remete diretamente ao blues das décadas de 1950 e 1960, enquanto “I Am the Blues” apresenta uma pegada quase autobiográfica, onde Bill afirma com orgulho seu lugar no gênero.
O disco foi elogiado também pela qualidade de produção e pelos músicos convidados, que trouxeram riqueza sonora sem desviar o foco da guitarra poderosa de Bill. Além disso, a faixa “Hold Me Baby” acabou ganhando destaque ao integrar a trilha sonora da série da FOX “Shots Fired”.
Uma Voz no Cinema
Além da música, Big Bill também mostrou seu talento nas telas. Ele participou do filme A Love Song for Bobby Long (2004) e, mais recentemente, interpretou o músico Jesse Moffette na cinebiografia de Bob Dylan, A Complete Unknown (2024), dirigida por James Mangold e estrelada por Timothée Chalamet. Sua atuação foi muito bem recebida, reforçando seu carisma e presença como artista completo.
Estilo, Voz e Influências
Big Bill Morganfield carrega na voz e no jeito de tocar uma herança inegável. Sua voz encorpada e grave, com forte semelhança com a de Muddy Waters, é um dos elementos que mais chamam atenção em seus discos. No entanto, Bill sempre se esforçou para manter uma identidade própria, apostando em arranjos diferenciados e temas contemporâneos em suas letras.
Ele também é conhecido por seu domínio absoluto da guitarra slide, técnica que estudou com profundidade. Seus shows são marcados pela energia contagiante, com solos arrebatadores e uma conexão genuína com o público.
Prêmios e Homenagens
Ao longo de sua trajetória, Big Bill Morganfield colecionou reconhecimentos importantes. Em 2013, foi introduzido no Blues Hall of Fame como “Mestre do Blues”. Três anos depois, em 2016, recebeu o Muddy Waters Lifetime Achievement Award, uma homenagem que ressoa ainda mais forte, considerando seu legado familiar.
Além dos Palcos
Big Bill também atua como produtor e gestor musical, à frente de sua própria gravadora, a Black Shuck Records, que lançou alguns de seus discos mais recentes. Fora da música, dedica-se a ações comunitárias e educativas, buscando transmitir a importância do blues para novas gerações.
O Blues Continua
Ao longo de sua carreira, Big Bill Morganfield provou ser muito mais do que o “filho de Muddy Waters”. Com talento, trabalho duro e respeito às raízes, ele construiu um caminho sólido e admirado no cenário mundial do blues.
Seja com álbuns como Rising Son e Ramblin' Mind, seja com obras maduras como Bloodstains on the Wall, sua música segue pulsante, cheia de alma, e mantendo viva a chama do blues de Chicago para as próximas gerações.
Big Bill segue como uma figura central no universo do blues, um artista que honra o passado, mas também se reinventa, mostrando que o blues está mais vivo do que nunca.
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