Orianthi: a guitarrista que uniu virtuosismo e emoção em “Some Kind of Feeling”

Orianthi: a guitarrista que uniu virtuosismo e emoção em “Some Kind of Feeling”



Virtuose da guitarra elétrica, estrela internacional e símbolo de uma nova geração de mulheres no rock e no blues contemporâneo, a australiana Orianthi construiu uma carreira marcada por parcerias lendárias, talento precoce e uma identidade musical única. Seu mais novo trabalho, Some Kind of Feeling, confirma sua maturidade artística ao combinar técnica refinada com composições sensíveis e produção de alto nível.

Da infância em Adelaide ao palco com Santana

Orianthi Penny Panagaris nasceu em 22 de janeiro de 1985, em Adelaide, Austrália, filha de imigrantes gregos. A música a cercava desde os primeiros anos de vida. Aos três anos, já tocava piano; aos seis, violão acústico. Mas foi aos onze anos, ao ouvir Jimi Hendrix e Carlos Santana, que se apaixonou definitivamente pela guitarra elétrica.

Aos 15 anos, abandonou a escola para seguir carreira musical profissional. Começou a tocar em pubs locais e, aos 18, foi convidada a participar de um show de Carlos Santana em sua cidade natal — um momento decisivo que impulsionou sua carreira internacional.

“Violet Journey” e os primeiros passos no mercado

Em 2005, Orianthi lançou de forma independente seu primeiro álbum, Violet Journey. Produzido e gravado em seu estúdio caseiro, ela tocou guitarra, baixo, bateria e vocais, revelando uma artista autodidata, multifacetada e com visão estética própria. Esse trabalho chamou a atenção da indústria e, em 2006, ela se mudou para Los Angeles, onde assinou com a Geffen Records.

De Carrie Underwood a Michael Jackson: o mundo prestava atenção

O primeiro momento de grande visibilidade global veio em 2009, quando Orianthi foi a guitarrista da performance de Carrie Underwood no Grammy Awards. A apresentação impressionou os bastidores da música pop, incluindo Michael Jackson, que a escolheu para ser sua guitarrista principal na turnê This Is It.

Embora a série de shows nunca tenha acontecido devido à morte prematura de Jackson, Orianthi participou de todos os ensaios e aparece em destaque no documentário This Is It, lançado ainda em 2009. Ela também contribuiu com guitarras no álbum póstumo Michael, na faixa “Monster”.

“Believe”: o sucesso comercial

No mesmo ano, veio o álbum Believe (2009), que marcou sua estreia em grande estilo. Com produção de Howard Benson e participações de Steve Vai e John Shanks, o disco uniu pop rock e solos virtuosos. O single “According to You” tornou-se um hit global: chegou ao top 20 da Billboard e recebeu certificações de platina nos EUA e na Austrália.

A música capturava bem a proposta de Orianthi: virtuosismo técnico aliado à vulnerabilidade emocional, uma combinação que logo atraiu fãs de diferentes vertentes musicais.

Entre o blues, o hard rock e a identidade própria

Se em “Believe” o apelo era mais pop, nos álbuns seguintes Orianthi aprofundaria sua ligação com o blues e o hard rock. Em Heaven in This Hell (2013), produzido por David A. Stewart (do Eurythmics), ela explorou sonoridades mais sujas e orgânicas. Faixas como “Frozen” e “You Don’t Wanna Know” mostravam uma artista em evolução, transitando entre riffs pesados e letras introspectivas.

De 2011 a 2014, integrou a banda de Alice Cooper, participando de diversas turnês e solidificando seu status de estrela da guitarra no mainstream. Seu envolvimento com o hard rock a aproximou de Richie Sambora (ex-Bon Jovi), com quem gravou o EP Rise (2018) e fez turnês sob o nome RSO.

Retorno solo e maturidade

Em 2020, lançou o disco O, um trabalho mais introspectivo, gravado durante a pandemia, e em 2022 chegou ao mercado o EP Live from Hollywood, que capturava sua energia ao vivo e a conexão com os fãs. A versatilidade de Orianthi já não deixava dúvidas: ela transitava com naturalidade entre o pop, o blues, o hard e o funk rock, sem perder sua assinatura de timbres encorpados e solos expressivos.

“Some Kind of Feeling”: o álbum da consagração

Lançado digitalmente em 27 de junho de 2025, Some Kind of Feeling é mais do que um novo capítulo — é o ponto de maturidade e liberdade criativa de Orianthi. Com dez faixas inéditas, o disco mistura blues, soul, rock clássico e grooves à la Motown, resultando em um trabalho vibrante, acessível e sofisticado.

A produção ficou dividida: três faixas foram produzidas pela própria Orianthi (“First Time Blues”, “Ghost” e “Bad for Each Other”) e as demais pelo veterano Kevin “The Caveman” Shirley, conhecido por trabalhos com Joe Bonamassa, Iron Maiden e Journey.



Destaques do álbum

  • “Attention” – Primeiro single, traz um riff poderoso e uma letra sobre um ex obsessivo. Tem tudo o que os fãs esperam de Orianthi: solo incendiário, refrão pegajoso e atitude.
  • “Some Kind of Feeling” – A faixa-título é grooveada, sensual e lembra clássicos do soul setentista, mas com uma pegada moderna e vocal melódico. Um dos melhores momentos do álbum.
  • “First Time Blues” (feat. Joe Bonamassa) – Um dueto intenso, com solos de guitarra em diálogo entre dois gigantes da cena blues contemporânea. Uma aula de feeling e técnica.
  • “Ghost” – Introspectiva e melancólica, a música trata de relações fantasmagóricas e da dificuldade de desapego. Guitarras em camadas criam uma atmosfera emocional profunda.

A banda de apoio no disco é de alto nível: Ed Roth (teclados), Justin Andres (baixo), Nick Maybury (guitarra), Jimmy Paxson (bateria) e Jade MacRae (vocais de apoio). O álbum foi gravado em estúdios lendários de Los Angeles, como o Love Street Sound, de propriedade de Robby Krieger (The Doors).

Sonoridade ao vivo no estúdio

Segundo entrevistas recentes, o objetivo de Orianthi era capturar a sensação de uma banda tocando junta ao vivo, evitando a fragmentação típica de muitas gravações modernas. Isso fica claro na fluidez das faixas e na intensidade das performances.

O lançamento físico está previsto para agosto (CD) e setembro (vinil), com pré-vendas já esgotadas em algumas lojas especializadas. A turnê promocional, adiada por conta de uma lesão (lesão no quadril e rompimento de tendão), deve ser retomada até o final de 2025.

Legado e impacto

Orianthi é mais do que uma guitarrista virtuosa. Ela representa uma quebra de paradigmas no universo predominantemente masculino da guitarra elétrica. Ao lado de nomes como Susan Tedeschi, Ana Popovic e Samantha Fish, ela ajudou a pavimentar um novo caminho para as mulheres no blues e no rock.

Eleita pela Elle Magazine como uma das 12 maiores guitarristas elétricas femininas da história, e ganhadora do prêmio de Breakthrough Guitarist of the Year em 2010 pela Guitar International, Orianthi permanece como uma figura inspiradora e inovadora.

Conclusão

Some Kind of Feeling não é apenas um novo disco — é a consolidação de uma artista em sua melhor forma, que soube unir coração, alma e guitarra em um só registro. Orianthi, que já brilhou ao lado de gigantes, agora brilha por conta própria, com um repertório autoral, emotivo e tecnicamente irretocável.

Se você ainda não mergulhou no universo musical dessa australiana de alma blues, essa é a hora. Some Kind of Feeling é um convite ao groove, à introspecção e à eletricidade das seis cordas.


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