Mitch Woods: o pianista que incendiou o Brasil com seu jump blues e estrelas pelo caminho

Mitch Woods: o pianista que incendiou o Brasil com seu jump blues e estrelas pelo caminho


Foto: Jeff Fasano

O piano flamejante de Mitch Woods aterrissou no Brasil semana passada, e deixou sua marca com apresentações incendiárias que misturaram boogie-woogie, jump blues e puro carisma. De Santa Teresa, no Espírito Santo, ao aclamado Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, no Rio de Janeiro, Woods mostrou por que é um dos maiores nomes do blues festivo contemporâneo. A plateia brasileira teve um raro vislumbre de sua arte ao vivo, e quem viu, não esquece.

Boogie-woogie em alta velocidade

Nascido no Brooklyn, Nova York, em 1951, Mitch Woods cresceu ouvindo os mestres do rhythm & blues, como Fats Domino, Louis Jordan e Amos Milburn. Mas foi com a explosão do rock nos anos 50 que ele descobriu sua verdadeira paixão: o boogie-woogie acelerado, dançante e carregado de energia. Em San Francisco, onde se estabeleceu ainda jovem, formou sua banda Mitch Woods and His Rocket 88s, batizada em homenagem ao clássico modelo de carro americano – sinônimo de velocidade e estilo, assim como sua música.

Desde os anos 1980, Woods se firmou como um nome importante da cena blues internacional. Seu estilo revive a vibração dos pianos dos anos dourados do R&B, misturando tradição com um toque moderno e contagiante. Ele se tornou uma presença constante nos maiores festivais de blues e jazz do mundo, além de ter excursionado com lendas como James Cotton, John Lee Hooker e Ruth Brown.



“Friends Along The Way”: parcerias de alma e história

Em 2017, Mitch Woods lançou uma joia de seu repertório: o álbum “Friends Along The Way”. Mais do que um disco, trata-se de um verdadeiro diário musical, costurado ao longo de sua trajetória por sessões ao vivo e colaborações espontâneas com alguns dos maiores nomes do blues e do rock.

Cada faixa é um encontro íntimo, muitas vezes com apenas piano e voz ou pequenos conjuntos, como em “Take This Hammer” e “C.C. Rider”, com Van Morrison e Taj Mahal, numa combinação de espiritualidade, lamento e entrega. Em “Keep a Dollar in Your Pocket” e “Saturday Night Boogie Woogie Man”, Elvin Bishop surge como parceiro ideal para o swing descontraído de Woods.

“Cryin’ for My Baby” e “Blues Gave Me a Ride” trazem a marca registrada do lendário Charlie Musselwhite, com sua gaita pungente e voz carregada de vivência. Em “Mother-in-Law Blues” e “Southbound Blues”, John Hammond empresta sua crueza e seu dedilhado sincero. “Nasty Boogie” e “Worried Life Blues” são explosões de energia com o sempre incendiário Joe Louis Walker.

A presença feminina é muito bem representada: Maria Muldaur brilha em “Empty Bed Blues” e “Mojo Mambo”, enquanto Marcia Ball divide os vocais e o piano em “In the Night”, homenagem a Professor Longhair. Já “Singin’ the Blues” se transforma em oração nas mãos e voz de Ruthie Foster.

Outros encontros memoráveis incluem Kenny Neal em “Bluesmobile” e “Don’t Dip in My Bizness”; Cyril Neville declamando em “The Blues” e “Blues for New Orleans”; e a participação póstuma de James Cotton na visceral “Chicago Express”. E para fechar com chave de ouro, uma raridade: John Lee Hooker ao lado de Woods em “Never Get Out of These Blues Alive”.

Preservando e celebrando o legado do blues

Além dos palcos, Mitch Woods também tem contribuído para manter vivo o legado do blues e do boogie-woogie. Seja tocando em Nova Orleans durante o Jazz Fest, organizando sessões com novos talentos ou celebrando os grandes nomes do passado, sua missão é clara: manter a chama acesa.

Ao vir ao Brasil, Woods mostrou que a linguagem do blues atravessa oceanos e conecta corações. Entre uma nota e outra, seu piano fala de alegria, saudade, resistência e liberdade. Não é à toa que, mesmo com mais de quatro décadas de estrada, ele ainda soa tão atual – e necessário.

Uma promessa de retorno?

Por enquanto, Mitch Woods já deixou o país e segue em turnê pela Europa, mas os fãs brasileiros torcem por um retorno em breve. Afinal, o boogie-woogie nunca sai de moda – e Mitch Woods continua sendo seu maior embaixador.

Se você ainda não conhece seu trabalho, comece pelo álbum “Friends Along The Way” – uma verdadeira celebração do poder da amizade e da música feita com o coração.


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