Harvey Mandel: O Gênio da Guitarra que Veio do Blues de Chicago

Harvey Mandel: O Gênio da Guitarra que Veio do Blues de Chicago



Se você é apaixonado por blues e gosta de descobrir guitarristas que transcendem gêneros e fronteiras, precisa conhecer — ou revisitar — a obra de Harvey Mandel. Nascido em Detroit e criado em Chicago, Mandel é um dos maiores mestres das seis cordas que surgiram da fervilhante cena de blues de Chicago dos anos 60.

O Blues de Chicago como Berço Musical

Harvey Mandel cresceu em meio às jams e aos clubes lotados do South Side de Chicago. Foi ali que ele bebeu diretamente da fonte, tocando e aprendendo com gigantes como Muddy Waters, Buddy Guy, Otis Rush e Magic Sam. Essa influência profunda do blues de Chicago nunca o abandonou, mesmo quando sua guitarra o levou para caminhos mais experimentais.

A Primeira Grande Chance: Charlie Musselwhite e o Surgimento de "The Snake"

Sua primeira gravação profissional foi nada menos do que com a lenda da harmônica Charlie Musselwhite, no álbum Stand Back! Here Comes Charley Musselwhite's Southside Band, lançado em 1966. Foi Charlie quem lhe deu o apelido que o acompanharia por toda a vida: “The Snake”, uma referência direta ao jeito sinuoso, fluido e inusitado com que Mandel conduzia seus solos de guitarra.

Esse álbum, considerado um dos pilares do blues moderno, já mostrava a pegada única de Harvey: um som limpo, agressivo, cheio de sustain, bends longos e escalas pouco convencionais para o blues da época.

Cristo Redentor: Uma Obra-Prima Psicodélica e Bluesy

Em 1968, Harvey Mandel lançou seu primeiro disco solo, Cristo Redentor, uma verdadeira obra-prima que misturava blues, psicodelia, jazz e experimentalismo. O disco é até hoje cultuado por fãs de música instrumental, especialmente pela faixa-título — uma versão arrebatadora do clássico brasileiro de Paulo César Pinheiro e Milton Nascimento, reimaginada em uma viagem sonora hipnótica e transcendental.

Canned Heat, John Mayall e… Quase Rolling Stone

Ainda no final dos anos 60, Mandel foi recrutado para integrar o Canned Heat, participando da lendária apresentação da banda no Festival de Woodstock. Com o Canned Heat, mergulhou ainda mais nas fusões de blues, rock e boogie, contribuindo diretamente para a sonoridade inovadora da banda.

Na década de 1970, outro mestre o chamou: John Mayall, que fazia do seu Bluesbreakers uma verdadeira escola de guitarristas. Mandel entrou na fase mais experimental de Mayall, onde o blues se encontrava com o jazz, o funk e o rock progressivo.

E quando Mick Taylor deixou os Rolling Stones, Harvey Mandel foi um dos guitarristas chamados para a audição. Chegou a gravar duas faixas para o álbum Black and Blue (1976): "Memory Motel" e "Hot Stuff". Embora não tenha ficado com a vaga definitiva, sua participação é um testemunho do respeito que seu nome carregava (e carrega) no meio musical.



Snake Walk: O Retorno Triunfal de um Mestre

Agora, em 2025, Harvey Mandel mostra que segue tão afiado quanto nas décadas passadas. Seu novo álbum, Snake Walk, é um verdadeiro presente para quem ama guitarra, blues e música instrumental de altíssimo nível.

A faixa de abertura, "Weather The Storm", já entrega de cara o espírito do disco: grooves densos, riffs hipnóticos e solos que parecem conversar diretamente com a alma do ouvinte. Destaque absoluto para "Eye of the Snake" e "Pumpin", que já estão entre as preferidas deste que vos escreve.

A banda que acompanha Mandel é simplesmente impecável, segurando com maestria a base para que “The Snake” deslize por suas escalas, seus licks desconcertantes e seus efeitos psicodélicos, que ele domina como poucos.

Por que Ouvir Harvey Mandel?

Porque é simplesmente genial. Porque é uma aula viva de como o blues pode ser a base para qualquer viagem musical — do psicodélico ao funk, do jazz ao rock. Porque é história pura, talento bruto e inventividade na veia.

E, principalmente, porque garimpar os discos de Harvey Mandel é descobrir um universo paralelo onde o blues encontra outros mundos — sempre com a mesma alma, o mesmo sentimento e o mesmo compromisso com a musicalidade.

Discografia Essencial de Harvey Mandel:

  • Stand Back! Here Comes Charley Musselwhite's Southside Band (1966)
  • Cristo Redentor (1968)
  • Righteous (1969)
  • Baby Batter (1971)
  • The Snake (1972)
  • Snake Walk (2025)

Conclusão

Se você ainda não conhece Harvey Mandel, comece agora. Se já conhece, o novo álbum Snake Walk é mais uma prova de que o blues, na mão dos grandes, nunca envelhece — apenas se reinventa. Harvey Mandel é, sem dúvida, um dos maiores guitarristas que o blues e o rock já revelaram.


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