Eddie Taylor: o homem discreto por trás do som de Chicago
Eddie Taylor: o homem discreto por trás do som de Chicago
Hoje eu acordei e, no frio desse início de inverno aqui em São Paulo, coloquei o disco I Feel So Bad do Eddie Taylor pra tocar enquanto tomava meu café da manhã. Posso dizer que até a fumaça da xícara dançava no ar ao som daquela guitarra crua, direta, sem firulas. E foi ali, entre goles e acordes, que percebi como Taylor segue sendo um dos pilares silenciosos do blues elétrico, desses que não aparecem nas manchetes, mas sustentam tudo.
Talvez o grande público não o reconheça de imediato, mas Eddie Taylor está no coração do som de Chicago. Nascido em Benoit, no Mississippi, em 1923, ele cresceu em meio ao Delta, aprendendo os segredos da guitarra com amigos como Jimmy Reed, com quem manteve uma parceria vital por décadas. E foi justamente como guitarrista de apoio que Eddie Taylor moldou a paisagem do blues moderno. Discreto, preciso e cheio de swing, foi ele quem deu base a clássicos como “Baby What You Want Me to Do” e “Bright Lights, Big City”.
Nos anos 1950 e 60, Taylor era figura constante nos estúdios da Vee-Jay Records, tocando ao lado de nomes como John Lee Hooker, Elmore James e Big Walter Horton. E mesmo quando não era creditado, seu estilo estava lá — na levada hipnótica, nos acordes curtos, nas pausas que diziam mais que as notas.
Mas Eddie não era homem de autopromoção. Levou uma vida simples, longe dos holofotes. Demorou até lançar um álbum próprio, e mesmo assim, o fez sem alarde. Seu talento era do tipo que não gritava, mas se fazia sentir no coração da música.
E foi só em 1972, já com quase cinquenta anos, que gravou I Feel So Bad, seu primeiro disco solo, num estúdio da Califórnia. E que disco! Gravado com músicos da cena da Costa Oeste, o álbum soa como um reencontro entre o velho Delta e o novo blues urbano. Em doze faixas, Eddie Taylor revela tudo o que é: compositor elegante, cantor com voz seca e sincera, e guitarrista de mão cheia.
Tem cover de Robert Johnson (“Stop Breaking Down”), uma releitura emocionante de “Bullcow Blues” de Charley Patton, e também composições próprias, como “Highway 13” e a instrumental “Stroll Out West”, que flui como uma estrada infinita ao entardecer. O disco é direto, sem excessos, e por isso mesmo, profundo. Um blues de verdade, desses que a gente sente no peito.
Infelizmente, Eddie Taylor partiu cedo. Morreu em 1985, aos 62 anos, vítima de um ataque cardíaco. Mas sua marca permanece — nos discos, nos filhos (como o guitarrista Eddie Taylor Jr., que também seguiu os passos do pai), e principalmente no legado sonoro que ajudou a construir.
Nesse inverno paulistano, I Feel So Bad me lembra que o blues não precisa gritar pra ser ouvido. Basta um homem com sua guitarra, um coração cheio de histórias e a verdade na ponta dos dedos. E Eddie Taylor, sem dúvida, tinha tudo isso. Aproveite!
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