Os 10 Anos Sem B.B. King: Um Rei Que Nunca Sai de Cena

Os 10 Anos Sem B.B. King: Um Rei Que Nunca Sai de Cena



Dia desses eu estava na casa do meu amigo Tony Babalu, lendário guitarrista aqui da Pompéia, e ele colocou pra tocar dois álbuns do Rei do Blues: Midnight Believer (1978) e Take It Home (1979). Poderíamos escrever páginas e mais páginas sobre B.B. King, abordando diversas fases de sua carreira, as parcerias marcantes, histórias fascinantes de sua vida — aliás, estou lendo sua autobiografia e tem muita coisa ali que merece ser dita. Mas o fato é que eu nunca tinha ouvido esses discos com a devida atenção... e fiquei de queixo caído quando meu velho camarada aumentou o som.

Essa é a fase em que B.B. King gravou com The Crusaders, e tudo ali tem uma pegada mais soul, mais R&B, sem perder a essência do blues. É simplesmente incrível. A maior parte do material é original, escrita pelos próprios Crusaders ou em parceria com o letrista Will Jennings. Os arranjos trazem metais brilhantes, linhas de baixo envolventes, teclados suingados e uma mixagem absurda de tão boa. B.B. canta com alma e sua inseparável Lucille costura cada faixa com o feeling que só um verdadeiro rei consegue entregar.

Esses dois discos, muitas vezes deixados de lado pelos puristas do blues tradicional, mostram um B.B. King em plena forma artística e vocal, disposto a experimentar, a dialogar com novas sonoridades e, acima de tudo, a seguir relevante em uma era de grandes mudanças musicais.



B.B. King: Uma Década de Saudade


No dia 14 de maio de 2015, o mundo perdeu Riley B. King, o homem que transformou o blues em uma linguagem universal. Dez anos se passaram desde sua partida, mas sua influência só cresce. B.B. King não foi apenas um guitarrista virtuoso ou um cantor com timbre inconfundível — ele foi a própria personificação do blues.

Nascido no Mississippi, ele trouxe o peso da vida sulista em sua música, traduzindo dor, alegria, fé e resistência em cada nota. Seu legado vai muito além de sucessos como The Thrill Is Gone, Every Day I Have the Blues ou Sweet Little Angel. Ele ensinou o mundo a ouvir, sentir e respeitar o blues.


A Guitarra que Falava


B.B. King desenvolveu um estilo único, sem usar acordes complexos ou solos velozes. Bastava uma nota, um vibrato, um bend bem colocado, para sabermos que era ele. E Lucille, sua guitarra Gibson ES-355, foi sua parceira inseparável. Juntos, criaram um som inconfundível, que influenciou gerações — de Eric Clapton a Gary Clark Jr.

Mesmo nos momentos em que o blues saía de moda, B.B. King mantinha sua dignidade artística, tocando com jovens estrelas do rock, jazz e pop, mas sempre do seu jeito. Nunca deixou de ser o que era: um homem que viveu o blues e levou sua mensagem aos quatro cantos do planeta.



O Legado do Rei


Em tempos de streaming e algoritmos, o nome de B.B. King segue firme, sendo redescoberto por novas gerações. Há algo de eterno na honestidade de sua música. Seus álbuns continuam sendo estudados, suas frases de guitarra continuam sendo copiadas, seu jeito de cantar continua emocionando.

E discos como Midnight Believer e Take It Home, com toda sua sofisticação soul e R’n’B setentista, merecem ser revisitados. Ali está um B.B. King maduro, elegante, conversando com músicos excepcionais e levando o blues para outros caminhos, sem nunca perder sua identidade.


Dez Anos Depois: Ainda Sentimos o Rei


Hoje, uma década após sua morte, ouvimos B.B. King como se ele ainda estivesse entre nós. E de certa forma, ele está. Em cada bend sincero, em cada letra de dor e superação, em cada jovem guitarrista que descobre o poder de uma nota bem sentida, o espírito de B.B. King vive.

No meu caso, ele vive também naquele momento simples, porém mágico, com meu amigo Tony Babalu, ouvindo o som alto e deixando a música nos atravessar. Porque, no fim das contas, é isso que o blues faz. E ninguém fez isso melhor do que o Rei.


 
 

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