Jimmy Johnson: o blues sofisticado de um pregador dos bares

Jimmy Johnson: o blues sofisticado de um pregador dos bares



Estava ouvindo a coletânea Living Chicago Blues, Vol. 1, quando fui capturado pelas quatro faixas de um artista que sempre soa refinado e profundo: Jimmy Johnson. O disco ainda traz faixas de Eddie Shaw, Left Hand Frank e Corey Ball. Na sequência  acabei colocando pra tocar Bar Room Preacher, excelente álbum de Johnson lançado pela Alligator Records em 1985. E lá estavam pérolas como “You Don't Know What Love Is”, “Cold Cold Feeling” e “Little By Little”. O som é elegante, emotivo, cheio de alma — e perfeito para essas noites de outono aqui em Sampa.

Jimmy Johnson foi um daqueles talentos que floresceram no fértil solo do blues de Chicago. Nascido em 25 de novembro de 1928, em Holly Springs, Mississippi, com o nome de James Earl Thompson, ele só adotaria o sobrenome artístico "Johnson" mais tarde, como homenagem ao guitarrista Jimmy Reed, com quem teve contato durante os primeiros anos em que se aventurou como músico.

Inicialmente, Jimmy tocava guitarra em bandas de soul e R&B nos anos 1950 e 60, acompanhando nomes como Otis Clay, Denise LaSalle e Tyrone Davis. Só na década de 1970 ele abraçou o blues de vez, e que bom que fez isso. Seu estilo sempre foi marcado por uma guitarra vibrante, com solos melódicos e arranjos bem trabalhados, além de uma voz clara e com forte carga emocional.



A estreia solo veio relativamente tarde, em 1978, com Johnson’s Whacks, pela Delmark Records. Mas foi com North //South, em 1982, e especialmente Bar Room Preacher, em 1985, que seu nome se consolidou no cenário do blues internacional. Este último disco é uma verdadeira aula de feeling, com faixas que transitam entre a lamentação contida e o groove contagiante, sempre com o timbre sofisticado da sua guitarra como guia.

Jimmy Johnson também colaborou com outros artistas, deixando sua marca em gravações de Luther Allison, Otis Rush e até em projetos paralelos organizados pela Alligator e Delmark. Sua contribuição para o blues de Chicago foi constante e respeitada, tanto pelos pares quanto por críticos e fãs.

Mesmo com o passar das décadas, Johnson seguiu ativo, lançando álbuns e se apresentando ao vivo. Um dos seus últimos trabalhos foi Every Day of Your Life, lançado em 2019, quando ele já passava dos 90 anos, provando que o blues não tem idade. Infelizmente, Jimmy faleceu em 31 de janeiro de 2022, aos 93 anos, deixando um legado que ressoa a cada nota que sai de sua guitarra.

E voltando ao Bar Room Preacher, é impossível não recomendar este disco como trilha para noites introspectivas, como as que esse outono paulistano costuma oferecer. Um álbum que, apesar do título, não grita — prega com suavidade, com sabedoria e com sentimento.

E você, está ouvindo blues em qual lugar do planeta? Ouça Bar Room Preacher e deixe suas impressões ...


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Marcos Ottaviano And His Blues Band: 35 Anos de Carreira

Nuno Mindelis: Blues, não só para o Brasil!

Bob Corritore: o gaitista das colaborações certeiras