Mud Morganfield: O Sangue do Blues Corre Forte nas Veias do Filho de Muddy Waters

Se existe uma herança pesada, reverenciada e profundamente enraizada no blues, é a de Muddy Waters. E ninguém carrega esse legado com mais respeito e autenticidade do que seu filho mais velho, Mud Morganfield. Com uma voz poderosa, presença de palco magnética e alma musical herdada diretamente das margens do Mississippi, Mud é hoje um dos nomes mais representativos do blues moderno. Neste artigo, vamos explorar sua trajetória, discografia e os álbuns que marcaram sua carreira — especialmente o tributo ao pai e o aclamado Portrait (2022).

A Vida e a Ascensão de Mud Morganfield

Nascido Larry Williams, Mud Morganfield cresceu em Chicago, berço do blues urbano, mas passou boa parte da juventude longe dos holofotes. Embora tenha convivido com o pai de forma intermitente, o peso do nome Waters sempre esteve presente. Por muitos anos, Morganfield trabalhou como caminhoneiro e tentou manter distância da música — mas o chamado do blues era inevitável.

Foi só após a morte de Muddy Waters, em 1983, que Mud decidiu, enfim, abraçar o legado familiar. A partir daí, iniciou sua caminhada musical, não como um simples imitador do pai, mas como um artista com identidade própria, que mistura reverência com autenticidade.

O Início da Carreira Musical

A partir da década de 2000, Mud Morganfield começou a se apresentar em casas de blues nos Estados Unidos e Europa. Sua voz — surpreendentemente semelhante à de Muddy Waters — chamou atenção imediata, assim como sua habilidade de liderar uma banda com carisma e domínio cênico. Sua estreia oficial em estúdio veio com o disco "Fall Waters Fall" (2008), um trabalho ainda tímido, mas que mostrava o potencial de um herdeiro legítimo do blues tradicional.

"Son of the Seventh Son" (2012) – A Afirmação de um Estilo

Em 2012, Morganfield lançou "Son of the Seventh Son", pela Severn Records. Esse disco marcou sua afirmação como artista. Produzido com uma banda de peso, o álbum apresenta faixas autorais e arranjos clássicos, equilibrando tradição e originalidade. O nome do álbum, claro, faz referência à mística do blues e à linhagem musical de Morganfield — ele é, literalmente, o "filho do sétimo filho".

“For Pops” (2014) – Um Tributo Emocionante a Muddy Waters

Dois anos depois, Morganfield uniu forças com o renomado gaitista Kim Wilson para gravar "For Pops: A Tribute To Muddy Waters". Lançado em 2014, o álbum é uma homenagem tocante ao pai e às raízes do Chicago blues. O disco traz versões respeitosas de clássicos como "I Just Want to Make Love to You" e "Got My Mojo Working", com uma banda que recria fielmente o som cru e elétrico dos anos 50. A obra foi aclamada pela crítica e venceu o Blues Music Award de "Traditional Blues Album of the Year", consolidando Mud como um dos grandes nomes do blues contemporâneo.

“Portrait” (2022) – Revisão e Consagração

Em 2022, Morganfield voltou aos holofotes com Portrait, lançado pela lendária Delmark Records. O álbum foi supervisionado por Bob Corritore, produtor e gaitista respeitado no circuito do blues. Portrait traz uma seleção refinada de faixas originalmente lançadas em "Son of the Seventh Son", agora com uma nova mixagem e masterização, que elevam o impacto das músicas.

O disco destaca faixas como “Blues in My Shoes”, “Health” e “Midnight Lover”, revelando a maturidade vocal e interpretativa de Morganfield. Além disso, a nova sonoridade proporciona uma experiência auditiva ainda mais rica, mostrando o quanto o artista evoluiu desde seu primeiro lançamento.

Discografia Selecionada de Mud Morganfield

Fall Waters Fall (2008)

Son of the Seventh Son (2012)

For Pops: A Tribute To Muddy Waters (2014) – com Kim Wilson

They Call Me Mud (2018)

Portrait (2022)

O Legado de Sangue e Som

Mud Morganfield não é apenas o filho de uma lenda — ele é, por mérito próprio, um dos mais importantes representantes do blues atual. Com um pé no passado e outro no presente, sua música honra o nome Waters enquanto traça um caminho original e respeitado por fãs e críticos.

Se você ama o blues de raiz, com guitarras chorosas, gaitas intensas e uma voz que ecoa o Delta e as ruas de Chicago, não pode deixar de ouvir Mud Morganfield. Ele não apenas carrega o sangue do blues — ele o faz pulsar novamente.