Doug MacLeod: Um Storyteller do Blues

 

Poucos artistas do blues contemporâneo carregam com tanta autenticidade o espírito do gênero quanto Doug MacLeod. Com sua voz grave, seu dedilhado preciso e letras que mais parecem confidências à meia-luz, MacLeod se firmou como um dos grandes mestres do blues, respeitado por público, crítica e colegas de estrada.

As raízes do blues: a vida antes dos palcos

Doug MacLeod nasceu em 21 de abril de 1946, em Nova York, mas cresceu em St. Louis, onde entrou em contato com o blues ainda jovem. A vida não foi fácil: enfrentou dificuldades familiares e um problema de gagueira que o acompanhou por anos. Foi justamente na música que Doug encontrou uma forma de se expressar livremente — e foi no blues que ele encontrou sua voz.

Antes de mergulhar na carreira solo, trabalhou como baixista e guitarrista de apoio em turnês e sessões, convivendo com lendas do gênero e absorvendo tudo como uma esponja. Sua grande escola foi a estrada, e cada experiência acabou virando inspiração para suas músicas.

Uma carreira moldada em histórias

Doug MacLeod é, acima de tudo, um storyteller. Suas canções não são apenas melodias — são retratos íntimos de pessoas reais, situações engraçadas, dramáticas ou comoventes. Com mais de 20 álbuns lançados, ele construiu uma discografia sólida, marcada por uma abordagem crua, sincera e profundamente humana.

Seu talento não passou despercebido: vencedor de múltiplos Blues Music Awards, Doug é um nome sempre lembrado nas principais premiações do gênero. Em 2024, recebeu o Blues Music Award de Álbum Acústico do Ano por seu disco Raw Blues — um trabalho que mostra sua maturidade artística e mantém a integridade que sempre o acompanhou.

Reconhecimento dos mestres

As composições de Doug MacLeod foram gravadas por nomes de peso do blues e da música soul, como Albert King, Albert Collins, Joe Louis Walker e Eva Cassidy. Esse reconhecimento entre pares é um forte indicativo da qualidade e da sensibilidade de seu trabalho como compositor.

MacLeod tem o dom de escrever músicas que parecem já ter existido antes — como se ele apenas as tivesse captado no ar. Seus temas são universais, mas contados com a honestidade de quem viveu cada verso.

Álbum de estreia: No Road Back Home (1984)

Lançado em 1984, No Road Back Home é o ponto de partida da discografia de Doug MacLeod — e um disco que já revelava a elegância, o intimismo e o domínio narrativo que marcariam sua trajetória.

A faixa-título, Ain't No Road Back Home, é um blues lento lindíssimo, daqueles que parecem sussurrar memórias antigas. Já I'm Down traz um timbre de guitarra maravilhoso e uma leveza pulsante que flui naturalmente. Nightbird, por sua vez, é daquelas canções de abraçar a alma, um momento de pura poesia em forma de blues. E como não se render à beleza melancólica de Winter Must Be Falling, com uma introdução de guitarra de arrepiar, que convida o ouvinte a mergulhar num clima de saudade e contemplação?

Esse álbum de estreia não soa como um ensaio: soa como a estreia de um artista já maduro, com algo verdadeiro a dizer — e que o faz com o coração.

Doug MacLeod é daqueles artistas que nos lembram por que o blues continua vivo. Ele não apenas toca — ele se conecta. E enquanto houver ouvintes dispostos a escutar, suas histórias seguirão ecoando.