Clarence “Gatemouth” Brown: O Virtuoso Embaixador do Blues Americano
Clarence “Gatemouth” Brown: O Virtuoso Embaixador do Blues Americano
Nascido em 18 de abril de 1924 em Vinton, Louisiana, e falecido em 10 de setembro de 2005, Clarence “Gatemouth” Brown foi muito mais do que um guitarrista de blues. Ele foi um verdadeiro embaixador da música do sul dos Estados Unidos, misturando blues, country, jazz, cajun, rhythm and blues e até música clássica em uma sonoridade única, virtuosa e absolutamente inconfundível.
Início da Vida e Trajetória Pessoal
Clarence cresceu em Orange, Texas, cercado por música desde cedo. Filho de um violinista de fiddle, ele aprendeu vários instrumentos ainda jovem, o que ajudaria a moldar seu som eclético e inventivo no futuro. Começou profissionalmente como baterista em 1945, tocando em clubes de San Antonio, Texas — um início modesto para um artista que viria a se tornar um ícone transatlântico do blues.
Além da música, Brown teve uma vida curiosamente multifacetada: atuou como diretor musical de programas de televisão e até exerceu o cargo de xerife no estado do Novo México — algo raro para um músico da sua geração.
Ascensão com a Peacock Records
A grande virada em sua carreira aconteceu quando o empresário Don Robey fundou a lendária Peacock Records especialmente para lançar o trabalho de Clarence. Era o início de uma jornada sonora revolucionária. O público logo foi arrebatado por sucessos como: “Okie Dokie Stomp”, “Boogie Uproar” e “Gate Walks to Board”.
Essas faixas não apenas marcaram sua carreira como também estabeleceram sua reputação como um dos guitarristas mais inovadores e expressivos do pós-guerra.
Reconhecimento Internacional e Renascimento Artístico
No início dos anos 1970, enquanto o blues tradicional lutava por espaço nos EUA, Gatemouth Brown era um artista querido e respeitado na Europa, especialmente na França e na Alemanha. Seus shows eram lotados e sua habilidade instrumental era amplamente reconhecida pelo público europeu, sempre aberto à experimentação musical.
Na década de 1980, Brown teve sua carreira revitalizada nos Estados Unidos com uma série de lançamentos pelas gravadoras Rounder Records e Alligator Records. Esses álbuns o colocaram novamente nas estradas norte-americanas em turnês exaustivas, mas recompensadoras.
Grammy e Reconhecimento com Alright Again!
Em 1982, Clarence “Gatemouth” Brown ganhou seu primeiro e único Grammy pelo álbum Alright Again!, na categoria de Melhor Álbum de Blues Tradicional. Este disco é, até hoje, uma obra essencial para quem deseja entender a amplitude e a genialidade de seu estilo.
O álbum Alright Again! é um mergulho profundo no blues do sul, com pitadas de country swing, jazz instrumental e grooves pulsantes de R&B. Cada faixa demonstra o domínio técnico de Brown não apenas na guitarra, mas também no violino e na gaita. Seu fraseado é sempre inventivo, fugindo do clichê e mantendo uma energia viva, alegre, quase debochada. Destaque para as faixas “Ain’t That Dandy” e “Frosty”, que resumem sua personalidade musical brincalhona e extremamente sofisticada.
Legado
Clarence “Gatemouth” Brown foi um dos artistas mais difíceis de rotular — e esse era exatamente o seu objetivo. Sua carreira é um testemunho da diversidade musical afro-americana e de como o blues pode ser tanto raiz quanto vanguarda. Ele nunca quis ser apenas um “bluesman”; queria ser lembrado como um músico completo — e foi.
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