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Blood Brothers: quando o blues vira irmandade

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Blood Brothers: quando o blues vira irmandade O blues não nasce do acaso. Ele nasce do encontro — de histórias cruzadas, de palcos compartilhados, de feridas antigas que encontram eco em outra voz. O projeto Blood Brothers surge exatamente desse lugar. Não como um experimento de estúdio ou uma jogada de mercado, mas como o resultado natural da amizade, da estrada e da afinidade musical entre Mike Zito e Albert Castiglia . Dois músicos forjados no circuito mais duro do blues contemporâneo, acostumados a carregar amplificadores, histórias e cicatrizes de cidade em cidade. Em Help Yourself , álbum que dá forma definitiva ao projeto, o que se ouve é mais do que um repertório bem executado. É a sonoridade de quem se conhece profundamente, de quem sabe a hora de avançar e, principalmente, a hora de ceder espaço. Um projeto nascido da estrada Antes de virar disco, Blood Brothers já existia nos bastidores, nos camarins e nos palcos improvisados do circuito blues americano. Mike Zi...

Lil Green: a voz ferida do blues urbano dos anos 40

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Lil Green: a voz ferida do blues urbano dos anos 40 Lil Green foi uma das vozes mais intensas e emocionalmente expostas do blues norte-americano dos anos 1940. Sua carreira curta, marcada por canções confessionais e interpretações carregadas de dor, reflete um período em que o blues deixava o campo e se estabelecia definitivamente nas cidades, assumindo novas formas, sem perder sua alma trágica. Entre baladas lentas, lamentos amorosos e uma entrega vocal quase desconcertante, Lil Green construiu um legado silencioso, mas profundamente influente. Sua história é também a de uma mulher negra tentando sobreviver — artística e emocionalmente — em uma indústria dura, dominada por homens, durante um dos períodos mais complexos da música popular americana. Infância, migração e os primeiros passos Nascida em Charlotte, Carolina do Norte , no início da década de 1920, Lil Green cresceu em um ambiente marcado pela música e pelas dificuldades econômicas típicas do Sul segregado. Como tant...

Harmonica Slim: o legado de um artesão do blues

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Harmonica Slim: o legado de um artesão do blues Harmonica Slim foi daqueles músicos que nunca pediram licença para entrar na história. Seu blues chegou cru, direto, sem verniz — um sopro forte de harmônica atravessando o Texas, passando por Los Angeles e deixando marcas profundas em discos, palcos e memórias. Nascido Travis Leonard Blaylock , em Texarkana, Texas, em 21 de dezembro de 1934, Slim construiu uma trajetória silenciosa, intensa e muitas vezes injustamente esquecida, como tantos artesãos do blues do pós-guerra. Raízes texanas e o primeiro chamado do blues Crescer em Texarkana significava viver entre o campo e o asfalto, entre o gospel das igrejas e o blues que escapava pelas janelas nas noites quentes. Foi ali que Travis Blaylock teve seus primeiros contatos com a música. Ainda menino, aprendeu a tocar harmônica ouvindo discos e músicos da vizinhança, desenvolvendo cedo um estilo pessoal, áspero e carregado de emoção. Antes mesmo de se entregar ao blues secular , Sli...

Cousin Joe: o piano e o blues como uma conversa íntima

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Cousin Joe: o piano e o blues como uma conversa íntima Cousin Joe , nascido Pleasant Joseph, foi um daqueles artistas que carregaram a alma de New Orleans no bolso do paletó e a espalharam pelo mundo em cada acorde. Cantor, pianista e contador de histórias, ele atravessou décadas mantendo vivo um blues que sorria, ironizava a própria dor e convidava o ouvinte a sentar mais perto do palco. Raízes na Louisiana Nascido em 20 de dezembro de 1907, na pequena Wallace, Louisiana, Pleasant Joseph cresceu entre o canto da igreja e os sons da rua. Ainda jovem, mudou-se para New Orleans, onde a música não era apenas entretenimento, mas linguagem cotidiana. Foi ali que ele aprendeu que o blues podia ser confissão, piada, crônica social e celebração ao mesmo tempo. Antes do piano dominar sua identidade , Cousin Joe cantava e tocava instrumentos de corda, absorvendo o espírito dos salões, dos bares e dos barcos que cruzavam o Mississippi. Quando se sentou definitivamente ao teclado, encontro...

James Booker: o gênio indomável do piano de Nova Orleans

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James Booker: o gênio indomável do piano de Nova Orleans Lionel DECOSTER CC BY SA James Booker foi um daqueles artistas que parecem carregar uma cidade inteira dentro de si. No seu piano conviviam o blues mais cru, o jazz sofisticado, a música clássica europeia, o gospel e o rhythm and blues de rua. Tudo ao mesmo tempo. Tudo em conflito. Tudo verdadeiro. Pianista virtuoso, compositor singular e figura profundamente atormentada, Booker viveu à margem do sucesso que seu talento anunciava, deixando como legado uma obra intensa, fragmentada e absolutamente única. Em uma das descrições mais contundentes já feitas sobre ele, Dr. John definiu James Booker como “o melhor gênio negro, gay, caolho e viciado em drogas que Nova Orleans já produziu” . A frase é dura, direta e reveladora — assim como a própria música de Booker. Um prodígio marcado pela dor Nascido em 1939, em Nova Orleans, James Carroll Booker III cresceu em um ambiente onde a música era tão natural quanto o ar quente e...

Pee Wee Crayton: o blues que aprendeu a caminhar pela cidade

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Pee Wee Crayton: o blues que aprendeu a caminhar pela cidade O blues urbano nasceu quando a noite ganhou luz elétrica. Quando as ruas passaram a ter calçadas, clubes e horários marcados. Entre os homens que ajudaram a conduzir essa transformação, Pee Wee Crayton ocupa um lugar silencioso, porém fundamental. Sua guitarra não gritava. Ela conversava. E, nesse diálogo contido e elegante, o blues encontrou uma nova forma de existir. Raízes do sul, destino no asfalto Nascido como Conny Crayton, no Texas, em 18 de dezembro de 1914, Pee Wee cresceu cercado pelo blues rural, aquele aprendido de ouvido, passado de mão em mão. Ainda jovem, mostrou inclinação para o violão, mas foi ao migrar para a Califórnia, nos anos 1940, que seu som encontrou propósito. Los Angeles fervilhava: músicos, clubes, gravadoras independentes e uma nova ideia de blues começavam a se formar. Crayton entendeu cedo que o blues precisava acompanhar o ritmo da cidade. Seu toque abandonava a aspereza do campo e...

Paul Butterfield: o gaitista que expandiu as fronteiras do blues

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Paul Butterfield: o gaitista que expandiu as fronteiras do blues Nascido em 17 de dezembro de 1942, em Chicago, Paul Butterfield foi um dos grandes responsáveis por levar a harmônica do blues a um novo patamar de intensidade, volume e linguagem urbana. Em uma cidade onde o blues elétrico pulsava em cada esquina, Butterfield surgiu como um músico branco profundamente respeitado pela comunidade negra, não por exotismo, mas por vivência, estudo e entrega absoluta ao gênero . Seu aprendizado veio direto da fonte. Butterfield caminhava pelos bairros do South Side absorvendo lições de mestres como Muddy Waters e Howlin’ Wolf , desenvolvendo um estilo de gaita poderoso, agressivo e preciso, inspirado em Little Walter, mas com personalidade própria. Não demorou para que se tornasse referência. Em meados dos anos 1960, liderando a Paul Butterfield Blues Band , ele ajudou a estabelecer uma ponte definitiva entre o blues de Chicago e o rock emergente. A banda revelou talentos fundamentais...